“As pessoas que estão a ser ameaçadas e agredidas têm que denunciar” às entidades escolares e às autoridades, apelou o Agente Rodrigues
Agente Rodrigues acompanha todos os casos |
A sessão “Bullying nas escolas” com a psicóloga Clara Estima decorreu esta segunda-feira, pelas 18h00, na EB1 do Parque.
“A infância é a fase que se passa o resto da vida a tentar ultrapassar quando algo corre mal”, afirmou Clara Estima, psicóloga nos hospitais CUF e da Prelada, no Porto.
O bullying é um comportamento agressivo que pode ser praticado de forma física, verbal, social, sexual e virtual (cyberbullying), de caráter repetitivo, sistemático e intencional e que implica um desequilíbrio de poder. Os protagonistas destas situações são os agressores, as vítimas e os espetadores que “muitas vezes incentivam mas não se envolvem, muito menos denunciam”, alertou Clara Estima.
Segundo a psicóloga, “os rapazes exercem mais comportamentos diretos (físicos) e as raparigas indiretos (virtual)” e “a agressão física declina com a idade mas a verbal e psicológica aumenta a partir da pré-adolescência”.
Os fatores individuais, familiares, escolares e sociais têm “muita influência no despoletar de situações de bullying”. Assim sendo, cabe à comunidade em geral e à comunidade escolar em particular combater esta problemática.
O Programa Escola Segura (PES) conta com os agentes José Rodrigues, mais conhecido como Tonecas, e Celestino Rodrigues, para estar todos os dias ao corrente dos problemas nas escolas sanjoanenses. Apesar desta ser a cidade mais pequena do país, “temos muitos casos” mas “os piores estão a ser entre raparigas, dos 13 aos 16 anos, que agridem-se ao nível verbal umas às outras”, afirmou o Agente José Rodrigues.
As escolas sanjoanenses, “à mínima situação que têm conhecimento, tentam resolver entre elas mas quando não conseguem falam connosco”. Devido à “boa parceria entre a escola e a polícia”, “mais de 90% dos casos estão resolvidos porque houve a intervenção de todas as partes envolvidas, desde o agressor, a vítima, a escola e nós”, revelou o agente ao labor.
“Os casos que não sabemos não podemos resolver”, por essa razão “as pessoas que estão a ser ameaçadas e agredidas têm que denunciar o que está mal” às entidades escolares e às autoridades, apelou o Agente Rodrigues.
Entre os inúmeros casos com que lida, o agente da PSP recordou o de um rapaz que pedia à mãe para levar dois lanches para a escola porque tinha muita fome mas na verdade um desses era para o agressor; e o de uma rapariga que foi vítima de bullying, no 1.º ciclo, por parte dos colegas que a “empurravam, batiam, puxavam os cabelos, entre outras coisas”.
Este último caso foi denunciado pela própria vítima durante uma formação dos agentes sobre bullying. “Vieram-me as lágrimas aos olhos” porque “não foi no 1.º ciclo mas era naquela turma de ensino básico que lhe faziam isso”, revelou o agente ao labor. Numa turma com mais de 20 alunos metade alinhava nesses atos e a outra metade não teve coragem de denunciar e evitar uma situação daquelas. O caso desta rapariga que “estava sempre muito triste, não brincava, lanchava na casa de banho para não ser incomodada e um dos melhores momentos do seu dia era na sala de aula, exceto quando participava e era gozada” foi alertado por uma professora. Atualmente “mudou de escola, na qual brinca, tem amigos e é completamente diferente” porque não há palavras que descrevam “a alegria de vê-la feliz”, confessou o Agente Rodrigues ao labor.
“A internet é a nova parede da casa de banho”
Uma das maiores preocupações, nos dias de hoje, “é o cyberbullying porque é difícil descobrirmos quem são os autores”, assumiu o agente. Neste tipo de casos, “um rapaz, há uns tempos, gostava de uma rapariga mas como não foi correspondido começou a tratá-la mal, difamá-la e injuriá-la na rede social Facebook”. O encarregado de educação da vítima entrou em contacto com os agentes mas ao mesmo tempo “os amigos dela começaram a dar ao agressor o mesmo tratamento e gerou-se a confusão”.
Para Clara Estima, “a internet é a nova parede da casa de banho, onde escreviam todo o tipo de coisas sobre as pessoas”. Desta forma, “é preciso aprender a linguagem da internet e alertar a juventude para os perigos (e-mails anónimos, falta de contacto direto, mensagens falsas, roubo de identidade, grupos de intrigas, entre outros)”.
Os alunos “veem-nos mais como amigos do que polícias” e sempre que “têm problemas em casa ou têm conhecimento de casos de furto, iniciação em estupefacientes, bullying e outros na escola vêm ter connosco”, assumiu o Agente Rodrigues.
As palestras do ponto de vista policial são uma das maneiras de combater estas e outras problemáticas nas escolas. Num balanço desde 1997, ano em que integrou o PES nas escolas sanjoanenses, “é complicado mas dá-me muito gosto e adoro trabalhar com a juventude”, por isso “ando sempre um passo atrás deles” para resolver os seus problemas, confidenciou o agente ao labor.
Agrupamentos preparados para combater problemas
A disciplina “Educação para a Cidadania” lecionada semanalmentepelos diretores de turma do 5.º ao 9.º ano de escolaridade é uma das formas dos três agrupamentos sanjoanenses informarem, prevenirem e mediarem situações de caráter disciplinar.
Os diretores dos agrupamentos Serafim Leite, Anabela Brandão, João da Silva Correia, Margarida Violante, e Oliveira Júnior, Mário Coelho, asseguram que nas suas escolas os funcionários, professores e diretores de turma estão preparados para atuar em conjunto com a direção, os pais e os agentes do PES sobre atos indisciplinares. Assim como, têm uma psicóloga que acompanha a orientação vocacional e os problemas pessoais e sociais dos alunos e dos familiares.
De acordo com Anabela Brandão, o agrupamento Serafim Leite não tem qualquer registo de casos de bullying mas “por vezes os alunos confundem brincadeiras de mau gosto” com esta problemática. A diretora assumiu que “o nosso lema é olhar para cada aluno de forma particular e em cada situação amparar e incentivar”, para que “todos possam trilhar o seu caminho com o objetivo de alcançarem o sucesso com todas as condições de segurança”.
Por sua vez, Margarida Violante, garantiu que o bullying “não é um problema preocupante para o agrupamento mas já fomos confrontados com situações dessa natureza”. Especificamente, no início deste ano letivo “houve registo de dois casos, ambos de caráter físico, que chegaram ao conhecimento da direção através do conhecimento dado pelo aluno agredido ao diretor de turma”, revelou ao labor. Além da parceria com o PES, o agrupamento João da Silva Correia estabeleceu um protocolo com a Associação Ecos Urbanos que pretende “simultaneamente levar os alunos a refletirem sobre a sua conduta, promover a realização de tarefas em prol da comunidade e fomentar a sua auto-estima”, explicou Margarida Violante. Ressalvou ainda, “não podemos esquecer que o bullying é antes de mais um problema social, logo a única forma de chegar até ele será sempre através de um trabalho de equipa que para além da escola tem necessariamente de envolver a família e a comunidade”.
A “Equipa de Disciplina e Gestão de Conflitos” do agrupamento Oliveira Júnior é constituída por professores e foi criada para “intervir em situações com alguma gravidade”. Apesar do incidente entre três alunos, no ano passado, “o bullying não constitui um problema a ser destacado no nosso agrupamento mas continuamos atentos e interventivos sobre qualquer situação que possa ocorrer”, assumiu Mário Coelho ao labor.
Diana Familiar
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