Que a advocacia na Inglaterra não vai muito bem, já é sabido. Mas, nesta semana, uma pesquisa mostrou em números o pessimismo provocado pela crise econômica no país. Quatro em cada dez advogados entrevistados se arrependem da profissão escolhida. E, logicamente, esses quatro não indicaram para ninguém seguir a mesma carreira.
A pesquisa foi conduzida pela Censuswide e divulgada pela revista da Ordem dos Advogados inglesa, a Law Society of England and Wales. Foram entrevistados pouco mais de 100 advogados, o que não representa nem 1% dos 130 mil atuantes no país. Ainda assim, o resultado retrata um pouco da insatisfação que vem rondando a profissão.
Para os entrevistados, o principal fator desestimulante é o cada vez mais alto custo para se tornar um advogado e, uma vez qualificado, o baixo retorno financeiro. Setenta e sete por cento dos entrevistados responderam que a combinação deve desanimar as novas gerações de seguir a carreira.
Para aqueles que já estão na advocacia, a grande preocupação é a aposentadoria. Pouco mais da metade respondeu que, nos próximos cinco anos, seu foco deve ser como viabilizar uma aposentadoria que lhes proporcione um descanso minimamente confortável. As mudanças na assistência judiciária, que tem sofrido cortes drásticos desde o ano passado, e a introdução das ABS — escritórios com investimento externo — também preocupam os advogados, que ainda não sabem como isso vai impactar o futuro da carreira.
Pelo menos por enquanto, o pessimismo dos profissionais não está impedindo jovens de se aventurarem na profissão. Em outubro do ano passado, o número de advogados atuantes bateu recorde. Na ocasião, a Law Society divulgou que havia 130,6 mil advogados na Inglaterra e no País de Gales, algo como um profissional para cada 428 habitantes.
Pesquisa divulgada no início do ano também mostrou que o salário médio na profissão continua muito acima da média nacional, que é de cerca de 30 mil libras (R$ 110 mil) por ano. Os advogados ganham, em média, 140 mil libras por ano, o que dá cerca de R$ 530 mil. Em 2013, o advogado que mais recebeu pelo seu trabalho foi um sócio da banca Freshfields Bruckhaus Deringer, que levou 2,5 milhões de libras (R$ 9,4 milhões) para casa.
Aline Pinheiro é correspondente da revista Consultor Jurídico na Europa.
Revista Consultor Jurídico, 8 de maio de 2014.
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