O bullying no Ensino Superior ainda é neglicenciado pelas universidades
A tragédia que vitimou cinco jovens na praia do Meco, a 15 de dezembro de 2013, trouxe novamente o debate sobre a existência de bullying nas universidades. O JPN traz-lhe agora a opinião de duas especialistas sobre um fenómeno ainda negligenciado.
O bullying é um termo cada vez mais discutido na comunidade académica, primordialmente no que diz respeito à praxe académica. Este é um termo que é usado para descrever atos de violência física ou psicológica, praticados por um indivíduo que entende estar, de alguma forma, em condições de exercer o seu poder sobre alguém ou sobre um grupo mais fraco.
O acidente ocorrido em dezembro de 2013 na praia do Meco, que vitimou cinco jovens, trouxe a suspeita de que estas mortes pudessem ter sido originadas por um ritual praxístico. Ainda assim, a existência de bullying no Ensino Superior não se resume apenas à praxe académica e, em muitas outras ocasiões, os alunos tidos como "mais fortes" exercem pressões junto dos alunos considerados "mais fracos".
Apesar do aumento destes casos nas universidades, a psicanalista brasileira Ana Carolina Barros considera que "as universidades têm conhecimento que o bullying existe, mas isso não significa que executem ações eficazes no combate e na prevenção desses fenómenos. Ainda existe uma postura de ignorar o que se acontece, em muitas instituições".
A investigadora, que desenvolveu o estudo "Bullying no Ensino Superior: Existe?", concluiu que "o bullying é um fenómeno considerado mais relevante, socialmente, nas escolas, e, na faculdade, esse fenómeno é negligenciado". "A quantificação que se faz destes casos não enfoca as universidades e as pesquisas académicas baseiam-se nas escolas. Os dois fatores associados parecem cooperar para a ilusão de que o bullying não ocorre no Ensino Superior, mas isso não é verdade", refere a psicanalista.
Ana Carolina explica que uma das principais razões para a existência deste fenómeno no contexto em causa tem a ver com o facto de, "nas universidades, existir outro tipo de competição, a concorrência pelo mercado de trabalho". O facto de os alunos do Ensino Superior serem mais velhos não invalida a presença de agressores, pois Carolina afirma que "o facto das pessoas serem mais velhas não significa amadurecimento emocional ou psicológico. Não se trata de uma relação de causa e efeito".
"O bullying não é tanto por ser gozado, mas mais por rejeição"
Adelaide Telles é uma das profissionais da Universidade do Porto que oferece consultas de psicologia, que visam solucionar e encaminhar estudantes com problemas psicológicos e intervir ao nível do seu desenvolvimento pessoal. Para a psicóloga, "o bullying nas universidades não passa tanto por ser gozado mas mais por rejeição". "Por exemplo, podemos ter um caso de três amigas em que uma chateia-se com outra e a terceira amiga alia-se a uma e deixa a outra de forma - isso é bullying psicológico", refere.
Relativamente ao tipo de casos que tem encontrado, Adelaide Telles coloca de parte a hipótese de bullying a jovens, em virtude destes serem de meios rurais, porque "aqueles alunos que se olha para eles e nota-se que vêm da província já não existem, porque tanto em termos de aspeto como formação, os alunos da província têm tanto acesso como têm os da cidade".
A psicóloga refere que não existe um processo linear no que diz respeito ao acompanhamento dado às vítimas de bullying, pois afirma que "cada caso é um caso e cada patologia tem métodos de intervenção específicos, porque um aluno que está deprimido não recebe o mesmo tratamento que um aluno que está com uma crise de pânico", descreve. O facto de este tipo de fenómeno estar presente no contexto universitário não justifica, segundo Adelaide Telles, que os psicólogos vão ao encontro das universidades sempre que surge um novo caso, pois defende que, "se a universidade quer saber se há muitos alunos deprimidos, então que venha perguntar".
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