São Paulo, 14 de abril de 2014 - Na última sexta-feira, 11 de abril, a Secretaria Nacional de Justiça e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) participaram dos lançamentos do relatório "Tráfico de Pessoas na Imprensa Brasileira" e do Guia "Tráfico de Pessoas em Pauta", com referências e informações sobre a abordagem do tema. Os materiais foram elaborados pela ONG Repórter Brasil, a partir de cooperação técnica entre o Ministério da Justiça e o UNODC.
O levantamento identificou entre janeiro de 2006 e julho de 2013, um total de 655 matérias relacionadas ao tema do tráfico de pessoas na imprensa brasileira. Dos cinco jornais pesquisados, o Correio Braziliense se destaca com o maior número de ocorrências na cobertura (32%), seguido por Folha de S. Paulo (26%), o Globo (23%), o Estado de São Paulo (16%) e Valor Econômico (3%).
O documento ressalta que a aplicação dos conceitos vinculados ao tráfico de pessoas é fundamental para a imprensa brasileira porque o que é veiculado direciona as interpretações dos leitores. O emprego aleatório de expressões e palavras compromete a veracidade dos fatos, fomenta a invisibilidade das violações aos direitos humanos e eleva os estereótipos e preconceitos.
O relatório alerta ainda para textos que descrevem operações policiais e de fiscalização em que os autores incluem informações sobre detenção e deportação, sem questionar se estes procedimentos são compatíveis nos casos de violações de direitos humanos. Nestes casos, a vítima deportada já está sendo automaticamente criminalizada.
Do total de notícias sobre tráfico de pessoas, 43% descrevem o fato exclusivamente a partir da perspectiva criminal. A restrição do tráfico de seres humanos aos seus aspetos penais impede o entendimento global acerca da complexidade do fenômeno, que é também social. Outro problema identificado na imprensa foi a falta de acompanhamento da vida da vítima após a situação do tráfico, sua reinserção social, econômica ou psicológica, com o objetivo de compreender as causas do problema e reduzir as possibilidades de reincidência.
O guia, publicação técnica para jornalistas, aponta para os conceitos fundamentais sobre o tráfico de pessoas, oferece recomendações e dicas, destaca mitos sobre o tema presentes nos meios de comunicação e termos adequados para abordar o tráfico de pessoas.
"No momento em que desconectamos o tráfico de pessoas na perspectiva dos direitos humanos, nós passamos a construir um conjunto de leituras que reforçam estigmas, preconceitos, xenofobia e modelos culturais que reproduzem este tipo de violação", afirmou Fernanda dos Anjos, Diretora de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação do Ministério da Justiça.
"É fundamental que as pessoas percebam que a responsabilidade no enfrentamento ao tráfico de pessoas é coletiva, envolve Estado, indivíduo e sociedade civil. Também não se trata de um problema individual. É um tema que está relacionado à dignidade da pessoa humana", afirmou Gilberto Duarte, assistente de programa da unidade de Estado de Direito do UNODC.
Também participaram do evento o Editor-chefe da ONG Repórter Brasil, Leonardo Sakamoto, o Deputado Estadual Carlos Bezerra, a Coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Governo do Estado de São Paulo, Juliana Armede; a Coordenadora do Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Ministério da Justiça, Heloisa Greco Alves; e a Estrategista da Campanha Coração Azul das Nações Unidas, Carina Rabelo.
Durante o sábado, 12/04, foi realizado um curso de capacitação de repórteres para a cobertura do tráfico de pessoas, que reuniu jornalistas de todos os estados brasileiros.
Informação relacionada
Fonte: UNODC .
Nenhum comentário:
Postar um comentário