terça-feira, 15 de abril de 2014

Tráfico de pessoas ainda não recebe atenção suficiente da mídia, aponta Repórter Brasil


Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), dois milhões de pessoas são vítimas de tráfico de pessoas no mundo. O crime movimenta, anualmente, 32 bilhões de dólares e 85% desse número provêm da exploração sexual. Mesmo assim, uma pesquisa realizada pela ONG Repórter Brasil mostra que o tema ainda não recebe atenção suficiente por parte da mídia.
A pesquisa “Estratégias para incentivar e apoiar o debate público qualificado sobre tráfico de pessoas” foi realizada pela Repórter Brasil com o apoio da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime – UNODC.
O estudo teve como base a análise de 655 textos publicados entre 1º de janeiro de 2006, ano de lançamento da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, e 1º de julho de 2013, ano do II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. Os veículos analisados foram Correio Braziliense, Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globoe Valor Econômico.
“O tráfico de seres humanos é o terceiro mais lucrativo do mundo, só perde para o de armas e de drogas. Só que ele não tem, nem de perto, a mesma visibilidade e a mesma inserção nos veículos de comunicação do que os outros dois. Na pesquisa nós percebemos que os jornalistas têm pouca informação sobre o assunto e, por isso, acabam deixando passar pautas e tratam o tema de forma equivocada”, afirma o jornalista Leonardo Sakamoto, coordenador da ONG Repórter Brasil.
De acordo com ele, a imprensa também possui alguns preconceitos em relação ao tópico, como confundir o tráfico de pessoas com imigração indocumentada ou com contrabando de pessoas; acreditar que o tráfico de seres humanos para exploração sexual só atinge mulheres; que a maioria dos casos são indivíduos enviados para o exterior e que indivíduos da classe mais pobre são as principais vítimas. “Nem todo boliviano que trabalha em uma oficina em São Paulo foi vítima de trafico de pessoas ou trabalho escravo. Isso é estigmatizado”, completa.
Segundo o coordenador, não houve um avanço cronológico na cobertura, como aconteceu, por exemplo, com o tema trabalho escravo. “Esse é um assunto que surgiu na pauta da mídia no início da década passada. Cresceu em importância e hoje está bem presente. O tráfico de pessoas ainda não. O tema sempre aparece de forma pontual e a imprensa se deixa pautar por elementos externos. Os jornalistas são reféns da agenda governamental e da ação policial”.
A partir da análise, a ONG elaborou um guia que oferece dicas sobre o assunto, dados, conceitos e material de legislação. Além da distribuição de mil exemplares, o guia está disponível para download. 

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