sexta-feira, 25 de abril de 2014

Número de casos de tráfico de pessoas aumenta muito no Brasil

Pesquisa do MP registrou queixas. Tráfico dentro do território brasileiro, principalmente envolvendo crianças e jovens, é cada vez mais comum.


Um levantamento do Conselho Nacional do Ministério Público - a que o Bom Dia Brasil teve acesso com exclusividade - mostra que vem crescendo o número de pessoas que procuram a Justiça para denunciar o tráfico de pessoas. É um crime covarde, como mostra o repórter Carlos de Lannoy.

O homem não quer mostrar o rosto e mal fala português. Chegou há um ano de Bangladesh, um dos países mais pobres da Ásia. Em troca de dinheiro, intermediários prometeram a ele emprego e um bom salário no Brasil. “Ele falou: ‘Você vai em Brasília, eu tenho uma pessoa lá. Ele vai fazer o visto para você’”, conta.

A viagem incluiu escalas nos Emirados Árabes, Peru e Bolívia. De lá, ele viajou de ônibus até Cuiabá, antes de desembarcar no Distrito Federal, onde descobriu que tinha caído em um golpe. “A pessoa falou sobre isso, eu vou ganhar um trabalho melhor, mas ele não deu trabalho. Só levou o dinheiro, o passaporte, depois ele sumiu”, lembra o homem.
A Polícia Federal encontrou 22 pessoas vindas de Bangladesh em uma cidade satélite do Distrito Federal vivendo em condição considerada degradante. Todas vítimas do tráfico de pessoas, um crime que, segundo pesquisa feita pelo Conselho Nacional do Ministério Público, vem crescendo rapidamente no Brasil.
A pesquisa do Ministério Público registrou queixas de pessoas trazidas do exterior e de brasileiros levados para outros países, mas é cada vez mais comum o tráfico dentro do território brasileiro, principalmente envolvendo crianças e jovens.
Desde o ano 2000, o Ministério Público registrou em todo o Brasil 1.758 casos envolvendo a entrega de filho menor para adoção ilegal, o uso de pessoas submetidas ao trabalho escravo e à exploração sexual, entre outros crimes catalogados na pesquisa como tráfico de seres humanos.
O que preocupa as autoridades é que o número de casos teve um forte crescimento a partir de 2010. “Há muita situação que se relaciona com o tráfico de pessoas dentro do Brasil, muito próximo de nós. Situações de escravidão junto ao trabalho ou de entrega de menor à pessoa inidônea, a famosa adoção à brasileira. O que a gente começa a perceber é que o fenômeno está muito mais perto de nós do que se imaginava”, ressalta o promotor Pedro Mourão.
Casos como o de uma mulher que recebeu um convite para trabalhar em um restaurante em Israel e foi obrigada a se prostituir pela máfia naquele país entram nas estatísticas.
Depois de 16 anos, diz que ainda é vítima de preconceito. “Agora, por eu ter um trabalho, eu prefiro esconder o rosto, não aparecer, mas falar. Eu me dei bem porque eu voltei com vida para a minha terra, para o meu país. Mas quantas não voltam?”, lamenta a mulher.
Para fazer denúncias sobre tráfico de pessoas você pode ligar de qualquer estado para o Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos.

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