O consumo de crack, droga antes associada apenas à pobreza e que agora alcançou a classe média, vem subindo em todo o país. Isso levou o Ministério da Saúde a criar um grupo de trabalho para elaborar um programa específico de tratamento do vício no SUS.
Em 2005, segundo a última pesquisa nacional do Cebrid, órgão da Unifesp, 0,7% da população entre 12 anos e 65 anos dizia ter provado a droga, quase o dobro do 0,4% registrado quatro anos antes. No caso da cocaína, o índice subiu menos, de 2,3% para 2,9%.
No Rio Grande do Sul, há 50 mil dependentes. "Temos uma epidemia", diz o secretário estadual da Saúde, Osmar Terra. O Estado iniciou um projeto-piloto de prevenção e tratamento, em parceria com o Ministério da Saúde, que deve ser estendido a outras regiões.
Na cidade de São Paulo, a Secretaria da Saúde estima que 0,9% da população acima de 12 anos use a droga regularmente --cerca de 70 mil pessoas.
"Já cheguei a fumar 40 pedras num dia", diz Edith (nome fictício), 22, que mora em um sobrado num dos bairros mais valorizados de São Paulo, Perdizes. Ela jamais se tratou.
Para efeito de comparação, segundo critérios da OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil tem uma "epidemia concentrada" de Aids. O índice de infecção pelo HIV na população de 15 a 49 anos é de 0,6%.
O crack é a droga mais agressiva, tem alto poder de vício e é a mais barata. No Guarujá, pedras custam até R$ 2,50, menos que uma cerveja.
A droga, um subproduto da pasta de cocaína, cruzou o Atlântico. Semanas atrás, foi vista com a megaestrela pop inglesa Amy Winehouse, 24, viciada em drogas.
No Rio, uma mistura de crack com maconha avança pelas areias de Ipanema e ganha comunidades em sites de relacionamento, como o Orkut.
"O crack agora está entrando a rodo no Rio, mas os profissionais de saúde estão despreparados", afirma Analice Gigliotti, presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas).
Segundo ela, a Abead discute com o ministério e a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) a realização de cursos para capacitar profissionais dos CAPs (centros de atenção psicossocial), da rede pública.
De acordo com a Polícia Civil, no Distrito Federal, a estratégia do tráfico é substituir a merla (outro subproduto da cocaína), para atrair a classe média.
"A merla é muito consumida pela periferia. No crack, há pessoas da classe média", afirma João Emílio de Oliveira, chefe da coordenação de repressão às drogas da Polícia Civil do Distrito Federal.
Folha de São Paulo.
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