Quase 15% das gestantes brasileiras usam produtos abortivos, revela uma pesquisa da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), recém-publicada em uma revista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), com 4.856 grávidas de seis capitais brasileiras. Chás de ervas, anticoncepcionais de alta dosagem e misoprostol (Citotec) foram os métodos mais usados pelas mulheres.
Durante o trabalho, os pesquisadores avaliaram quais dessas substâncias estavam relacionadas a uma maior incidência de má-formações fetais e descobriram que o misoprostol aumentou em 2,64 vezes o risco de o bebê ter problemas congênitos, como defeitos nos sistemas nervoso (meningomielocele e microcefalia) e musco-esquelético (pé torto).
Isso ocorreria porque a substância interfere no desenvolvimento normal da vascularização do embrião ou do feto.
Desde o início dos anos 90, o uso do misoprostol (criado originalmente para tratar úlcera gástrica e que teve venda proibida no Brasil) tem sido o principal meio para a realização de abortos no país. Estudos revelam que de 50,4% a 84,6% das mulheres que cessaram a gestação utilizaram o medicamento.
O estudo da UFRGS, que teve por objetivo primário investigar a incidência da diabetes gestacional, envolveu mulheres com mais de 20 anos, entre a 21ª e a 28ª semanas de gestação, atendidas em unidades de assistência pré-natal vinculadas ao SUS (Sistema Único de Saúde) em Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
Entre as que relataram o uso de substâncias abortivas, --muitas o fizeram para induzir a menstruação e descobrir se estavam grávidas, outras desejavam abortar-- 34,4% afirmaram tomar chás de ervas, 28,3% utilizaram hormônios sexuais e 17%, misoprostol.
O uso de hormônios sexuais de alta dosagem (ginecoside, por exemplo) com fim abortivo foi o segundo maior fator de risco para as má-formação. Os bebês das gestantes que os usaram tiveram 2,2 vezes mais chances ter anomalias.
"As anomalias congênitas, causadas ou não pelo uso de medicamentos durante a gestação, vem contribuindo com uma proporção crescente de casos nos índices de mortalidade infantil", diz a farmacêutica e professora da UFRGS Tatiane da Silva Dal Pizzol, uma das autoras do estudo.
Ela diz acreditar que os números de anomalias encontradas no trabalho podem estar subestimadas por terem sido considerados só os diagnósticos dos médicos que acompanharam o nascimento dos bebês. Dal Pizzol diz que a alguns defeitos neurológicos podem se manifestar após dias ou meses.
A farmacêutica diz que o trabalho não encontrou associação entre os chás abortivos e as anomalias fetais, embora essas substâncias sejam tóxicas. Um explicação, segundo ela, está na fato de que há uma grande variedade de chás e não foi possível encontrar um número significativo de gestantes que tenham ingerido o mesmo tipo --critério fundamental.
Folha de São Paulo.
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