SÃO PAULO - Isabel Cristina Soares da Silva, de 35 anos, a mulher que foi presa por engano no lugar de um homem acusado de assassinato e ganhou indenização de R$ 10 mil vai recorrer da decisão da Justiça. Ela disse em entrevista ao Globo Online que sair da cadeia não encerrou o seu drama. Na verdade, uma grande mudança em sua vida começava. Depois de ficar quatro dias presa numa cadeia da região de Franca, cidade a 353 quilômetros de São Paulo, ela parou de trabalhar durante 6 meses, por orientação médica, teve que mudar as filhas de escola por causa do constrangimento e a mais velha até repetiu de ano. Quando voltou para a empresa, foi despedida.
- Me senti um lixo, o pior dos seres humanos. Sou uma pessoa muito passiva e nunca briguei com ninguém. Logo que cheguei na cela, as detentas perguntaram o que eu tinha feito. Eu falei que era inocente. Riram de mim e disseram que naquele lugar todas eram inocentes como eu. Eu não comi e nem bebi nada durante os quatro dias em que estive ali porque não tinha mais vontade de viver - disse Isabel.
Assustada, ela disse que tinha medo de nunca mais sair da cadeia.
- Por mais que eu falasse que era inocente, ninguém acreditava na hora de eu pedir emprego. Minhas filhas também sofreram muito. Tive de mudar as duas de escola. A mais velha ficou rebelde e perdeu o ano, mesmo sendo acompanhada por um psicólogo - disse Isabel.
A luta por um novo trabalho só foi vencida no começo deste mês de julho, quando ela conseguiu um emprego para ser assessora de marketing de duas farmácias da cidade.
Isabel não tinha qualquer passagem pela polícia e trabalhava na indústria calçadista de Franca, como sapateira. Ela soube que estava sendo procurada pela polícia 15 dias antes da prisão, quando tentou renovar a carteira de habilitação. Por um erro de digitação no número do RG do verdadeiro acusado, Dorival Sant'Ana, Isabel foi confundida com o autor do crime. Foragido, Dorival havia sido condenado pelo assassinato do irmão, Nilson Sant'Ana.
Isabel foi presa em uma sexta-feira, 23 de março de 2007. Ela contou que somente no domingo, quando a polícia começou a perceber o erro, as detentas ficaram mais amistosas com ela e até deram a ela uma bíblia de presente. Naquele final de semana, a cadeia estava mais cheia por conta da transferência de algumas presas da Penitenciária de São José da Bela Vista.
- Quando soube que tinha um processo em meu nome fiquei assustadíssima e cai em depressão. Estava em casa quando os policiais chegaram, às 6h30m da manhã. Me tiraram da cama e levaram à força para o distrito policial. Minhas filhas, na época com 14 e 11 anos, presenciaram tudo e ficaram horrorizadas. Quatro viaturas pararam na porta de casa. Foi uma vergonha - contou.
No último dia 7, Isabel ganhou na Justiça indenização de R$ 10 mil contra o estado e vai recorrer. O valor pedido pelos advogados dela era de R$ 380 mil. Em seu despacho, o juiz Humberto Rocha disse que a vítima sofreu constrangimento ao ser brutalmente privada de sua liberdade. O juiz contestou a Justiça Pública do Estado, que disse que Isabel só ficou tanto tempo na cadeia porque foi presa na sexta-feira e no final de semana o poder judiciário não funciona regularmente.
- O juiz aplicou uma indenização muito pequena. Normalmente, uma pessoa que tem o nome incluído irregularmente no Serasa recebe uma indenização de R$ 10 mil. É um valor ínfimo diante do constrangimento. Vamos entrar em, no máximo, 10 dias com recurso no Tribunal de Justiça. Se não for suficiente, vamos em órgãos superiores - afirmou o advogado Adalto Casanova, assistente de defesa no caso.
Além de pedir indenização, a defesa de Isabel quer que ela volte a ter a "ficha limpa" na polícia. Os advogados também vão pedir indenização por danos morais às duas filhas de Isabel.
O Globo.
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