quarta-feira, 30 de julho de 2008

Prevenção é insuficiente para conter 30 mil novos casos de aids no Brasil por ano

Brasília - O Relatório Global sobre Epidemia de Aids 2008, apresentado em Brasília nesta manhã (29) pelo coordenador do Programa DST/Aids para as Nações Unidas (Unaids), Pedro Chequer, mostra que os esforços de prevenção da doença começam a dar resultados, mas não o suficiente para reverter a epidemia global em nenhum país do mundo, nem no Brasil, onde ainda aparecem 30 mil novos casos por ano.

O país é o que tem o maior índice de contágio na América Latina: são cerca de 730 mil pessoas com a doença – o que corresponde a 0,6% da população. No entanto, a coordenação da Unaids elogiou o programa brasileiro de combate e controle da doença durante a divulgação dos dados, porque já teria garantido acesso ao tratamento e aos insumos para a prevenção da doença, como os preservativos – ou seja, universalizado a cobertura de tratamento e prevenção.

Entretanto, Chequer pontuou que os governos locais – que são co-participantes das políticas de combate e controle da aids –, ainda precisam estar atentos para investir na prevenção da doença, mesmo que hajam poucos casos no município. Para ele, a falta de iniciativas locais colabora para que os 30 mil novos casos por ano continuem a aparecer no Brasil – ainda que não haja tendência de crescimento. Desde 2000, o país passa por um período de estabilidade com relação à incidência da doença.

“De modo geral, há um equívoco de alguns políticos, especialmente a nível local, de que, 'se a prevalência é baixa, então não vamos investir em aids, porque o problema não existe'. Na verdade, aí é que temos que efetivamente estar fazendo prevenção, como promoção à saúde”, defendeu.

Chequer exemplificou este pensamento com o que ocorre na Amazônia e no sertão nordestino ainda que essas regiões não concentrem grandes números de casos. Ele explicou que o foco das políticas de saúde nesses locais não é a aids, mas outras doenças, o que torna essas áreas vulneráveis ao crescimento de infecções pelo vírus HIV.

O diretor-adjunto do Programa Nacional de DST/Aids, Eduardo Barbosa, também participou da apresentação e arrematou que esses locais receberão cuidados do governo.

“O Ministério da Saúde vai trabalhar em parceria com a Unaids, nas estratégias que estão sendo adotadas de capacitação, de ampliação de acesso, trabalho com as comunidades, com os grupos locais, então nosso trabalho, nesse sentido, é em parceria com a Unaids”, arrematou Barbosa.

Um dado positivo do relatório é que os casos brasileiros de transmissão do vírus HIV de mãe para filho foram menos de 900 dos 30 mil, no ano passado.

A tendência mundial, agora, segue para a queda no número de casos da doença. Chequer afirmou que ainda há muito a ser feito para que se alcance a universalização da cobertura de prevenção e tratamento da aids.

“O mundo está caminhando para, cada vez mais, usar preservativo, inclusive na África. Como resultado, temos uma reversão da tendência crescente da epidemia. Isso é um dado concreto, apesar de outros métodos estarem sendo utilizados, o preservativo ainda é o método adequado mais seguro na prevenção da transmissão sexual”, pontua Chequer, como destaque do relatório.

O documento aponta que, no mundo todo, existem 33 milhões de pessoas com a doença. A África Subsaariana (área mais pobre, próxima ao Deserto do Saara) é a região do globo com maior incidência do vírus: 22 milhões de pessoas têm aids.

“O grande desafio não é apenas fazer o acesso ao tratamento. É certo que nós alcançamos 3 milhões [de pessoas com HIV para tratamento] e ainda faltam 6 milhões para serem atendidos. Esse é um processo que, eu diria, não é fácil, mas é factível a curto prazo, a médio prazo, à medida que haja investimento material e de serviços de saúde. O grande desafio, assim, é prevenção”, reiterou.

Ele destacou, ainda, que neste último período de análise, mais 1 milhão de pessoas no mundo tiveram acesso ao tratamento, além das que já tinham. “É claro que nós ainda não alcançamos a meta [a universalização da cobertura de prevenção e atendimento]. A meta vai ser avaliada em 2010, 2015, mas, considerando a prioridade política dada a nível mundial, seguramente vamos estar alcançando, senão em 2010, em 2015, o que coincide com as metas do milênio”.


Agência Brasil.

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