terça-feira, 29 de julho de 2008
Brasileiro morto a tiros nos EUA estava fumando maconha, diz polícia
A polícia de Yarmouth, no Estado de Massachussets (Estados Unidos), afirmou em comunicado divulgado nesta segunda-feira que o brasileiro André Martins, 25, morto na madrugada de domingo em uma blitz, estava aparentemente fumando um cigarro de maconha.
Segundo comunicado enviado pela polícia à imprensa, Martins --que foi morto a tiros por um policial-- estava com o cigarro na boca quando os paramédicos o retiraram do veículo e o levaram para o hospital de Cape Cod, em Hyannis, onde foi declarado morto.
A mulher de Martins, Camila Campos Miranda, primeiramente negou que houvesse drogas no veículo. Questionada novamente pela Folha Online após a divulgação do comunicado da polícia, ela admitiu que havia maconha no carro, mas disse que Martins não fumava naquele momento. "Tinha maconha, mas isso não justifica atirar nele".
Camila, que estava no banco de passageiro, negou, no entanto, que o marido tenha tentado fugir da blitz, alegando que ele apenas desviou do carro policial porque "não havia tempo de parar".
"Ele virou o carro para não bater na polícia. Quando ele virou, o policial desceu do carro, se aproximou e atirou pela janela. Depois o policial deu a volta no carro e disparou mais tiros", disse.
Comunicado
De acordo com o comunicado da polícia de Yarmouth, um carro de patrulha dirigido pelo policial Christopher Van Ness, 34, observava o carro de Martins e, quando o brasileiro acelerou seu veículo, acionou luzes azuis do carro policial "em uma tentativa de sinalizar para que ele parasse".
O automóvel do brasileiro, segundo o comunicado, virou na avenida Baxter, onde outros carros policiais realizavam uma blitz. "O veículo em questão [de Martins] virou à esquerda no jardim de uma casa localizada no número 41 da Baxter com o policial seguindo o carro", diz o texto.
Segundo o texto, o carro do brasileiro deixou marcas no asfalto, evidenciando a tentativa de fazer um retorno na rua.
De acordo com a polícia, "alguns tiros" foram disparados pelo policial Van Ness, o carro diminuiu e parou próximo ao local.
Ainda segundo o comunicado da polícia, uma autópsia foi conduzida na manhã desta segunda-feira e os resultados preliminares indicam que Martins morreu de um único tiro que perfurou seu corpo, atingindo o coração e os pulmões.
O comunicado informa ainda que Camila já deu depoimento à polícia e que "tem colaborado". O caso, continua o texto, está sob investigação dos detetives do Estado de Massachusetts, com a ajuda de um time de reconstrução de acidentes e especialistas em balística.
Sem chance de defesa
Camila apresenta uma versão diferente para o ocorrido. "O policial conversou por rádio com um segundo carro de polícia, que fechou a rua. Como viu que não ia conseguir parar a tempo, André virou o carro. O policial que bloqueou a rua desceu do veículo, apareceu na janela aberta e começou a atirar. Foram três tiros contra ele", relatou, em entrevista à Folha Online.
Para ela, o marido não teve chance de se defender ou de se explicar antes de ser morto a tiros.
"Eles não pediram para pararmos nem para descermos do carro. Ele [o policial] só não acertou em mim porque eu abaixei no banco", disse ela sobre a morte de André, com quem teve dois filhos --de 2 e 6 anos-- que estavam em casa.
Camila, que trabalha em um consultório médico, disse ainda que vai processar o Estado de Massachusetts pela morte do marido.
"Eu estou sozinha para criar meus filhos. Isso foi assassinato, eles atiraram à queima-roupa."
Indignação
Martins estava nos EUA desde 2001, trabalhava como pintor e não estava regularizado no país.
O pai de André, Luiz Carlos de Castro Martins, policial da reserva de Tapejara, no Paraná, disse que o filho era um trabalhador, e que pode ter ficado com medo de parar porque estava irregular.
Ele criticou, contudo, a ação agressiva do policial. "Sou policial de reserva, o policial tem que estar preparado. Tem como anotar a placa [do carro], agir depois é o mais certo. Não precisa correr nem metralhar ninguém. Ou atira no pneu, o carro você recupera, a vida não", lamenta.
Luiz Carlos disse que o filho nunca teve problemas com a polícia, e que sua morte é uma "lição" para os policiais. "Eles têm que pensar antes de agir, ter mais cautela. Sei que a situação é difícil, mas não se pode simplesmente atirar em alguém. [...] Meu filho trabalhava honestamente nos EUA, mas os imigrantes são esquecidos naquele país".
Folha de São Paulo.
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