terça-feira, 29 de julho de 2008

Peixe "blindado" inspira armadura de soldados

Os aquaristas que criam o Polypterus senegalus, um tipo de peixe exótico, que existe há 96 milhões de anos e vem da África, já têm mais uma história para contar.

O peixe, que parece com uma enguia pré-histórica, apesar de ser distante dela na classificação dos especialistas, é motivo de estudo no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).

A missão da equipe de cientistas, mais especificamente, é desenvolver armaduras de guerra cada vez mais resistentes. "O conhecimento básico é que poderá nos levar a aprimorar o desenvolvimento de equipamentos tanto para soldados quanto para veículos", justifica Christine Ortiz, líder da pesquisa americana.

De acordo com os resultados apresentados na edição de hoje da revista "Nature Materials", o peixe africano, que vive na água doce, é uma grande inspiração para os técnicos.

Tudo por causa das suas resistentes escamas. Depois de desmontarem, via técnicas nanotecnológicas, as estruturas de proteção do Polypterus, os cientistas já sabem boa parte dos segredos da espécie.

Sem dúvida, por causa da longevidade, ela tem uma história de sucesso contra os predadores dos rios africanos.

A armadura natural do peixe estudado tem um desenho absolutamente eficiente para a proteção, dizem os cientistas.

Os materiais, a geometria e a espessura das escamas (algo ao redor de 500 milionésimos de metro), além da forma como elas são dispostas e unidas em camadas, é que tornam o sistema tão protetor.

"Certos princípios que nós descrevemos agora poderão ser aplicados em sistemas humanos", afirma Ortiz.

Mordida circular

Outro item que chamou a atenção dos cientistas é a forma com que a energia de uma mordida de um eventual predador, por exemplo, é absorvida pela armadura natural analisada.

Como cada uma das escamas apresenta camadas com materiais diferentes também, esse desenho, diz o estudo, impede que a força de uma eventual mordida viaje muito longe.

O que ocorre, mostraram as análises, é que a força aplicada pelo predador é obrigada a percorrer um círculo ao redor do ponto atacado. Com isso, o estrago é menor. Ele não é propagado para outras partes do corpo do animal.

O gênero Polypterus ocupa vários rios da África, como o Nilo, o Niger e o Senegal. A espécie estudada no MIT não está entre as maiores do grupo. Mesmo assim, ela pode chegar a medir 50 cm de comprimento. Esse tipo de peixe é carnívoro, nas lagoas e beiras de rio africanas ele come insetos, crustáceos, moluscos, anfíbios e outros peixes.

O sistema de defesa da espécie, lembra Oritz, surgiu há milhões de anos, quando a competição por espaço e alimento nas águas africanas deveria ser bastante grande.

"Lá atrás, existiam muitos invertebrados que eram eficientes predadores", disse a cientista. "Os euripterídeos, por exemplo, eram artrópodes gigantes e carnívoros que tinham várias estruturas anatômicas de ataque, como pinças e garras, bastante preparadas para a predação."


Folha de São Paulo.

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