Ter boa memória não é apenas sinônimo de guardar na mente uma série de palavras ou números para se dar bem em um teste. A memória é fundamental para a preservação da vida. É por meio dela que se aprende processos, que vão desde exercícios físicos até contas matemáticas, e se guarda momentos importantes, como um casamento ou uma grande perda.
"O nosso cérebro deleta as informações que não são importantes. Por exemplo, você pode se lembrar do que almoçou hoje, mas, a menos que tenha havido um evento interessante, não vai se lembrar do que comeu na semana passada. Isso porque é a emoção que sedimenta a memória de longo prazo", explica Cícero Galli Coimbra, professor do departamento de neurologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
O problema é que, com o passar dos anos, a velocidade do processamento das informações diminui. E, se o cérebro deixa de ser estimulado, a pessoa passa a ter lapsos de memória. Por isso, o idoso está mais sujeito a falhas de memória. Consequentemente, aumenta o risco de desenvolvimento de doenças degenerativas, como o Alzheimer.
"Um bom exemplo é comparar um idoso ativo, que procura ter atividades intelectuais, e um analfabeto. A probabilidade de o segundo ter uma doença desse tipo é bem maior", afirma Valéria Santoro Bahia, neurologista do Hospital Samaritano.
Assim, o melhor a fazer para manter os neurônios bem acordados é não deixar de estimulá-los sempre. "Para um adulto saudável, a melhor opção para manter a saúde da memória é sempre aprender coisas novas e ter atividades intelectuais, como jogos e artesanato. A leitura é uma das atividades mais completas, pois trabalha os quatro estágios de memória. Quando a pessoa lê, lida com a memória recente, a linguagem e a atenção e ainda relaciona os fatos a experiências passadas", observa Camila Prade, neuropsicóloga do Hospital Albert Einstein.
Palavras cruzadas
Até tarefas mais fáceis podem dar uma mãozinha ao cérebro. "Quem gosta pode fazer palavras cruzadas ou brincar com quebra-cabeças. Contar o dia-a-dia em um diário e ouvir músicas antigas, que fazem lembrar de momentos passados, também são bons exercícios", diz Lourdes Brunini, psicóloga e diretora da Facis (Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo).
Um dos fatores que bloqueiam a produção de novas células pelo cérebro e, consequentemente, afeta a memória é a depressão. "Não se sabe exatamente por que, mas o estresse emocional tem esse efeito no cérebro. A solução é sempre agir com serenidade diante dos problemas e tentar fazer uma coisa de cada vez", afirma Coimbra.
Portanto, não há motivo para pânico. Se você sofre de lapsos de memória como se dirigir a um armário e esquecer o que pretendia buscar, mas se lembra se repete a ação, não há problema nenhum. Isso ocorre porque, com muitas coisas na cabeça, a atenção é desviada. "A pessoa deve procurar o médico se perceber que os lapsos se repetem de maneira consistente, como a mesma pergunta feita em intervalos muito curtos", pontua o neurologista.
Folha de São Paulo.
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