segunda-feira, 30 de junho de 2008

Avenida Brasil: durante o dia tem o movimento das lojas; à noite, o mercado sexual

Durante o dia, a principal via comercial de Maringá é tomada por pessoas interessadas e produtos e serviços; à noite, os objetos de desejo são os profissionais que vendem o corpo

Durante o dia, a Avenida Brasil, em Maringá, tem um perfil. Lojas de todos os tipos exibem cartazes de ofertas para o movimento ininterrupto de pedestres e veículos que circulam pela região. À noite, quando o comércio está de portas fechadas e grande parte dos moradores se prepara para dormir, o cenário muda. Após as 20 horas, entra em cena o mercado sexual. Basta atravessar a via de uma ponta a outra para encontrar garotos de programa, prostitutas e travestis, à espera de clientes.

A fundadora e presidente da União Maringaense dos Profissionais do Sexo, Arinéia Maria Martins Gonçalves, estima que mais de 1.500 pessoas se prostituam no município. Na conta, ela inclui, as acompanhantes de executivos e as estudantes universitárias que fazem programas. "Na União são 312 cadastrados, mas o número é muito maior", afirma. Entre o grupo de prostitutas, predominam mulheres com mais de 30 anos.

Se, por um lado, alguns moradores torcem o nariz para essa realidade, menosprezando-a com tratamento preconceituoso, por outro é para a Brasil que vão pessoas interessadas em sexo pago, em fantasias eróticas e, também, em conversas despretensiosas que, às vezes, assemelham-se a desabafos. "Nem sempre é só sexo. Às vezes, os clientes querem uma companhia para beber algo ou somente um bom papo, porque não têm diálogo com as próprias mulheres e namoradas", revela Ellen, 44 anos, uma das prostitutas da Brasil.

Ellen é divorciada e está há pouco tempo no ramo. Ela foi para as ruas quando tinha 42 anos, motivada pela expectativa de retorno financeiro. "Trabalhava como empregada doméstica e governanta. Ganhava em torno de R$ 500,00 e, agora, tiro cerca de R$ 700,00, por semana", conta. No entanto, a ambição, como ela mesma define, faz com que esteja sujeita a riscos maiores. Ellen se lembra de quando começou a trabalhar como prostituta e um cliente a levou para um local distante, onde a torturou e a ameaçou de morte. "Por um milagre, consegui escapar."

Os riscos que envolvem a profissão fazem com que haja uma união entre os integrantes do grupo. O garoto de programa Diego, 25, é uma espécie de guarda-costas de Ellen. Ele trabalha em um ponto próximo ao dela e está sempre de olho nas pessoas que se aproximam da amiga. "Tem muita gente ruim que vem fazer maldade", relata.

Diego é garoto de programa há dois meses e revela que só optou pela profissão por não encontrar outro emprego. "Ninguém dá serviço para nós", justifica.

Ellen não bebe e não fuma e conta que, antes de ir para as ruas, tentou trabalhar junto com duas primas em uma boate, mas não gostou, porque era obrigada a consumir bebidas alcoólicas. No entanto, não são todas as pessoas que adotam essa postura. Ellen diz que já viu colegas de profissão ir além, consumindo e traficando drogas. "Não mexo com isso, mas existe", argumenta. Se o assunto é o uso de preservativos, ela garante ser cuidadosa. "Muita gente pede relações sem camisinha, mas falo que não, de jeito algum. Eu me amo."


Assumida

Ao contrário de outros profissionais do sexo, Ellen é assumida. Ela não esconde de ninguém a profissão que exerce, incluindo a própria mãe, irmãos e o filho de 13 anos. "Se não escondo de Deus, não tem motivo para esconder de ninguém." A intenção de Ellen é juntar dinheiro para abrir o próprio negócio, um salão de beleza. Mesmo não desejando o trabalho de prostituta para sempre, ela se entusiasma quando fala sobre a profissão. "O meu sonho é fazer um filme pornográfico", confessa.

Segundo Ellen, a procura de clientes é maior às quintas, sextas e vésperas de feriados. "Tem dias que não venço atender de madrugada. Eles me ligam e eu falo que encerrei o expediente." Ela declara também que costuma atender a casais e que já saiu com personalidades e gente famosa. Entretanto, se a pergunta é sobre qual cliente ela prefere, a resposta é imediata: "Adoro sair com descendentes de japonês", revela, bem-humorada.
Durante o dia, Ellen é uma mulher como qualquer outra. Ela limpa a própria casa, leva o filho para a escola, faz compras e, se por acaso, esbarra com algum cliente que está acompanhado da mulher, ela disfarça. "Sou uma profissional."



Número

3.804 - É a quantidade de preservativos que a Secretaria Municipal da Saúde doou para a União Maringaense dos Profissionais do Sexo, em junho.


O Diário de Norte do Paraná.

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