A expansão do comércio e do consumo de drogas no Brasil, constatada pela ONU num assustador relatório mundial sobre o problema, mostra que nosso país está registrando uma mudança substancial nessa área. O Brasil deixa de ser predominantemente uma rota por onde circulava a droga, para se converter também em destino final e em mercado consumidor. Mesmo que os números do documento da ONU tenham como base os de 2005, ou seja, mesmo com a provável defasagem das informações, o retrato que resulta é de cores sombrias e aponta para uma realidade de tragédia e violência. Nosso país transformou-se no segundo mercado consumidor de cocaína do continente, perdendo apenas para os Estados Unidos. Em 2005, mais de 800 mil brasileiros haviam consumido cocaína no curso dos 12 meses anteriores.
A questão das drogas representa uma teia de interesses e de crimes que não pode ser nem ignorada, nem menosprezada. Como rota do tráfico, nosso país abriga quadrilheiros internacionais que usam o território criminosamente, com tudo o que isso representa em termos de ampliação da violência, cooptação de autoridades e disseminação do consumo. A ONU considera que a guerra contra o tráfico e os traficantes pode ser equiparada, por sua dificuldade e complexidade, às guerras de insurgência. Produtores e comerciantes de drogas, para garantir a exploração desse rico filão do crime, freqüentemente se apoderam de áreas territoriais, de onde expulsam o poder público e onde estabelecem poderes paralelos e marginais.
O documento da ONU significa, por isso, um alerta para o qual autoridades nacionais e as organizações multilaterais devem montar estratégias inteligentes. Para o Brasil, as graves ameaças sociais embutidas na disseminação das drogas precisam ser enfrentadas com ação conjugada, o que deverá incluir necessariamente tanto a proteção dos jovens contra a atração do consumo quanto o combate severo das poderosas quadrilhas que comandam o tráfico.
Zero Hora.
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