segunda-feira, 30 de junho de 2008

Família de estudante morto em porta de boate está inconformada com versão de PM

A família do estudante Daniel Duque, 18 anos, assassinado na madrugada de sábado em uma briga na porta da boate Baronetti , em Ipanema, Zona Sul do Rio, não se conforma com a versão de legítima defesa apresentada pelo soldado da PM Marcos Parreira do Carmo, autor do tiro que matou o rapaz. Daniela Duque, mãe da vítima, contesta a presença do policial no local àquela hora da manhã e o fato de ele ser a única pessoa envolvida no incidente que estava armada. O PM fazia a segurança de Pedro Velasco, filho da promotora Márcia Velasco, quando ocorreu o crime.

- É muito bonito chamar alguém para briga e se esconder atrás de um PM armado. Se o policial estava protegendo a família da promotora ameaçada, por que ele estava numa boate àquela hora? Como um PM diz que agiu em legítima defesa quando apenas ele estava armado? - disse Daniela.

A família de Daniel afirma que o jovem foi morto com um tiro à queima-roupa e pelas costas e, quando já estava ferido caído no chão, foi agredido com socos e pontapés. O engenheiro Sérgio Coelho, padrasto do rapaz, disse que o enteado foi atingido quando corria do tumulto. Segundo a mãe, o jovem morreu no local.

- O Daniel foi brutalmente agredido com pontapés no rosto. Ele caiu no chão, depois levantou. Quando tentava correr foi atingido pelas costas, na altura da omoplata. Foi uma covardia - contou Sérgio.

Mas na versão apresentada pelo PM à 14ª DP (Leblon), à qual "O Globo" teve acesso, ele alegou legítima defesa, afirmando ainda que o tiro foi acidental. Parreira disse que na sexta-feira assumiu o serviço às 15h, chamado pelo filho da promotora. O policial contou que na madrugada de sábado entraram na boate Baronetti após passarem pela boate Boox, que fica ao lado. O PM disse ainda que, com o filho da promotora, estava o jogador de futebol Diguinho, do Botafogo. Segundo o policial, o grupo deixou a boate às 5h30. Foi nesse instante, contou o PM, que um dos amigos do filho da promotora se envolveu numa confusão e pediu ajuda, alegando que um grupo de 12 rapazes queria agredi-lo. O policial afirmou ter sido cercado e ameaçado. Ele disse que, nesse momento, fez dois disparos para o alto com uma pistola Taurus calibre 380. O PM alega que o terceiro tiro foi acidental e para o chão.

Por sua vez, o estudante Gustavo Neves, amigo de Daniel, disse que aconteceu uma discussão com um dos seguranças da casa noturna dentro da boate. Gustavo afirmou que Daniel não participou da confusão, mas confirmou que na saída, por volta das 5h30, apareceram cerca de dez rapazes tentando agredi-los. Eles reagiram e começaram a brigar. Gustavo disse ter ouvido três tiros e que viu Daniel cair com o rosto ensangüentado. Mesmo no chão, ferido, contou Gustavo, o jovem foi agredido com dois chutes no rosto pelo grupo de rapazes que acompanhava o filho da promotora.

Com receio de que os responsáveis pelo assassinato do estudante não sejam punidos, a família de Daniel vai pedir ao consulado americano que acompanhe as investigações. Daniel tinha dupla nacionalidade (o pai dele mora em Washington).

- Apenas o policial que atirou prestou depoimento. O filho da promotora, o jogador do Botafogo Diguinho, que também estava no momento da briga, e os outros envolvidos não foram ouvidos pela polícia. Apenas os amigos do Daniel falaram até agora - disse Sérgio Coelho, padrasto de Daniel, lembrando que o policial e os outros jovens deixaram o local do crime num BMW: "Eles saíram cantando pneu e com as portas abertas".

Usando no pescoço o escapulário que Daniel levava quando morreu, Daniela Duque não consegue conter o choro e a revolta ao falar da morte do filho. Amparados pela família, Daniela e Sérgio cobram a punição de todos os envolvidos.

- Tiraram meu filho de mim. Quero justiça. Não vou deixar o assassinato no esquecimento - disse Daniela.

O soldado Marcos Parreira do Carmo é um dos cerca de 200 policiais militares que estão lotados no Ministério Público Estadual. O grupo de policiais faz parte da Coordenadoria de Segurança e Inteligência e atua em investigações e na segurança de promotores das áreas criminal, de tutela coletiva e de proteção aos idosos e aos adolescentes. O procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, informou que apenas seis ou sete desses policiais trabalham na segurança de promotores. Segundo ele, a grande maioria é do Grupo de Apoio aos Promotores (GAP) e participa de operações, numa atividade típica de policiais.

- É um trabalho imprescindível e, sem o apoio dos policiais militares, o trabalho do Ministério Público e dos promotores estaria seriamente comprometido - afirmou Marfan.


O Globo.

Nenhum comentário:

Pesquisar este blog