domingo, 29 de junho de 2008

''Me acusaram para desviar atenção do caso de estupro''

Daniele do Prado Toledo: dona de casa e acusada de matar a filha; jovem que foi violentada por médico e injustamente acusada de matar a filha com cocaína no leite ainda responde na Justiça


casa Daniele do Prado Toledo, de 22 anos, ainda tem vontade de chorar toda vez que vê roupas de bebê cor-de-rosa. Lembra da filha, Victória Maria do Prado Iori Carvalho, que morreu em 29 de outubro de 2006, com 1 ano e 3 meses. Mas as lembranças boas da filha têm de conviver com os mais dolorosos pensamentos a respeito de sua morte.

Daniele foi acusada de matar Victória colocando cocaína em sua mamadeira. Ficou presa por 37 dias e foi brutalmente espancada na cadeia - sofreu graves perdas de visão e audição - até que um laudo definitivo do Instituto de Criminalística comprovou que não havia droga no organismo da criança e constatou que ela morreu de overdose de remédios. No laudo necroscópico, a causa da morte aparece como "indeterminada". A menina tinha quadros de convulsão desde os 2 meses de idade.

Apesar do laudo, Daniele ainda é acusada na Justiça do homicídio duplamente qualificado da filha - por motivo fútil e com uso de veneno -, agravado pelo fato de o crime ter sido contra descendente. Ontem, após acompanhar os depoimentos de quatro testemunhas de acusação, fez um desabafo: acha que foi vítima de corporativismo médico. Daniele ainda pode ir a júri popular - a decisão será do juiz Marco Antônio Montemor, que ouvirá as testemunhas de defesa em 7 de agosto.

Por lei, um promotor não pode retirar uma denúncia após tê-la oferecido. Pode mudar a acusação, mas o promotor do caso, Felipe José Zamponi Santiago, acha necessário que a ação siga para esclarecer como se deu a overdose - se ocorreu algo no pronto-socorro onde o bebê foi atendido ou se a medicação ministrada pela mãe gerou complicações no estado de saúde da filha. "Não terei pudor em pedir a desclassificação (enquadrá-la num crime menos grave, como homicídio culposo), nem a impronúncia (para que ela não vá a júri), se me convencer de uma dessas maneiras", disse o promotor.

A morte da sua filha ocorreu cerca de 20 dias após você ter sido vítima de abuso sexual, crime que você atribui a um então médico residente do Hospital Universitário (HU) de Taubaté. Você vê alguma ligação entre os dois fatos?

Com certeza. Quando a Victória recebeu alta, no HU, dois dias antes de morrer, foi direto da UTI para casa. Não ficou em observação na enfermaria, como era de praxe. Isso já foi estranho. Nesse dia, eu saí de lá com uma carta assinada por três médicas do HU dizendo que, se minha filha tivesse outro rebaixamento do nível consciência, eu poderia entrar direto com ela. Mas, no dia, eles me barraram por ordem administrativa.

O que você fez, então?

Fui com ela para o Pronto-Socorro Municipal. Lá eles pediram a vaga na UTI, mas não foi dada. Chegamos às 20h30 e ela só recebeu soro às 4h30 da manhã. Não cuidaram dela.

A que horas houve a constatação de que havia um pó branco no vômito de sua filha?

Por volta de 5 da manhã.

A que horas a polícia foi acionada?

Por volta de 5h30.

Após a constatação da existência do pó, o que foi feito?

Os médicos não fizeram nada para tratar dela, só ligaram para a polícia. Ela só foi medicada quando teve febre e, depois, na primeira parada cardíaca. Não foi feito nenhum exame.

A que horas Victória morreu?

Pouco depois das 10 horas.

Você mencionou, em entrevistas anteriores, que o médico a quem você acusa de abuso lhe fez ameaças. Que ameaças foram essas?

Foi pedido para eu retirar o boletim de ocorrência, mas insisti. Sofri ameaças por telefone e, na própria noite (do abuso), ele disse que sabia da doença da minha filha e, se acontecesse alguma coisa, ela sofreria as conseqüências. Acho que meu erro foi ter denunciado.

Quando você associou as coisas?

Quando eu estava em Caçapava (na prisão), vi o caso na televisão e comecei a lembrar de algumas coisas. Em Tremembé, fiquei sozinha (na cela) e tive mais tempo para pensar.

Você tem informação de alguma ligação dos médicos do pronto-socorro com o homem a quem você acusa de estupro?

Tenho. Tem relação até mais próxima que a gente imaginava, até com as médicas que estavam lá no dia.

Sua filha pode ter sido morta?

Sim, por negligência. Me acusaram (de matar Victória) para desviar a atenção do caso do estupro, que o hospital e o médico vão ter de responder.


Quem é:
Daniele Toledo

Tem 22 anos, foi acusada de matar sua filha Victória, de 1 ano e 3 meses

Ficou presa 37 dias, quando chegou a ser espancada


Estadão.

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