quinta-feira, 29 de maio de 2008
Portadora de paralisia cerebral vira advogada em São Paulo
Flávia Silva receberá a carteirinha da OAB nesta quinta-feira.
Ela tem limitações de fala e coordenação motora e usa cadeira de rodas.
Em uma cadeiras de rodas, com limitações de coordenação motora e dificuldades para falar, a bacharel em direito Flávia Cristiane Fuga e Silva, de 26 anos, vai receber sua carteira de advogada nesta quinta-feira (29) e será a primeira defensora com paralisia cerebral do estado de São Paulo.
Ela foi aprovada no exame 133 da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB – SP) e com o registro na ordem pode atuar como defensora em qualquer lugar do país. Flávia mora em São José dos Campos, a 91 km de São Paulo. Como o resultado do exame já foi divulgado, ela já possui o registro na OAB-SP, de número 269.203.
Mesmo com as dificuldades que enfrenta, ela foi aprovada num exame no qual 84,1% dos 17.871 inscritos não atingiram a pontuação necessária para passar. Como digita num teclado virtual e só usa a mão esquerda, a bacharel teve oito horas para fazer a segunda fase do exame, segundo a OAB, ao contrário dos colegas que possuem apenas cinco. Muitas amigas da mesma classe dela ainda não conseguiram passar na prova.
Flávia escolheu fazer o curso de direito por influência do pai, Eliezer Gomes da Silva, que é advogado e também porque queria defender seus direitos como portadora de deficiência. “Queria brigar pelo direito das pessoas portadoras de necessidades especiais que são tolhidas pela sociedade”, disse ela, por intermédio de seu pai, que ajudou na entrevista ao G1, por telefone.
A advogada afirmou também que ficou feliz ao saber que havia passado no exame, mas já esperava o resultado por ter estudado bastante. Ela cursou faculdade na Universidade do Vale do Paraíba (Univap) entre 2001 e 2005 e conseguiu concluir o curso no tempo normal.
Faculdade
Como não tinha condições de anotar o que o professor dizia nas aulas, Flávia prestava atenção. Depois tirava cópia do que as colegas anotavam e estudava em casa. “Ela sempre tirou nota boa, sempre acima de sete, sabíamos que ela conseguiria passar na OAB”, disse Silva.
Na hora da prova, segundo seu pai, os professores faziam um exame de múltipla escolha para ela poder responder mais facilmente, já que só era necessário apontar a resposta correta. Como não tem coordenação motora para usar a caneta, Flávia contava com a ajuda de alguém da família que ia até a faculdade nos dias de prova.
Flávia já trabalha junto com o pai, no escritório dele, fazendo peças jurídicas em casos de direito de família. Ela gosta mais da área de direito penal, mas desistiu segundo conta Silva, pois seria inviável trabalhar na área devido a necessidade de locomoção constante, para ir a delegacias e presídios e também porque exige que o advogado fale mais, inclusive diante de um júri.
A advogada é totalmente dependente para se locomover, comer, tomar banho, entre outras coisas. A família conta que sempre lutou pelos direitos da filha e, junto com outros pais de São José dos Campos, conseguiu que a rede pública criasse uma escola para os portadores de deficiência. Uma vez a cada seis meses, a advogada vai ao Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, para fazer tratamento.
A moça começou a estudar com sete anos de idade e nas primeiras quatro séries sentiu dificuldades e teve de fazer o período de quatro anos em sete. Depois, pegou o ritmo e conseguiu concluir o ensino médio com 21 anos.
Aceitação
Apesar das dificuldades, ela procura manter uma vida social ativa saindo com as colegas para o cinema, teatro e shopping. Quando o programa envolve restaurante, a mãe vai junto para ajudar a filha.
“No início ela tinha dificuldade de se aceitar, mas quando foi conhecendo pessoas como ela, teve força de vontade e conseguiu suplantar os problemas”, conta o pai. “Hoje em dia ela é uma moça muito contente, alegre e está sempre rindo. Tem várias amigas e até as ajuda com trabalhos jurídicos”, acrescenta.
Além do direito, Flávia também dedica seu tempo a um curso de pintura e até já expôs seus quadros no Fórum Trabalhista de São José dos Campos, em fevereiro deste ano.
G1.
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