Alimentação rica em ômega 3 poderia representar menor risco de crianças se tornarem violentas
Adescoberta de que ambiente e fatores neurobiológicos - determinados por predisposição genética - exercem igual influência na formação de indivíduos violentos leva a ciência a encarar novas formas de prevenir a criminalidade. Para alguns estudiosos, medidas tomadas já durante a infância têm o poder de cercear o desenvolvimento de uma mente assassina.
Uma pesquisa realizada há 30 anos nas Ilhas Maurício, na África, com crianças que ingeriram grandes quantidades de peixes ricos em ômega 3 trouxe resultados surpreendentes, segundo o psicólogo britânico Adrian Raine, professor da Universidade da Pensilvânia, nos EUA. O estudo envolveu o acompanhamento de 1,8 mil crianças a partir dos três anos, de ambos os sexos e que nasceram entre 1969 e 1970. Além do estado nutricional, foram realizadas avaliações psicológicas em cada uma delas. Uma parte dessas crianças recebia três refeições diárias com peixes ricos em ômega 3, praticava exercícios físicos duas horas por semana e tinha reforço nas atividades escolares.
- Ao realizarmos uma nova avaliação, quando os participantes tinham 23 anos, o grupo que recebeu esses estímulos teve uma redução de 34% na criminalidade em relação ao grupo de controle - afirma o pesquisador.
No caso específico do ômega 3, outras pesquisas já demonstraram que a substância tem papel importante no cérebro, melhorando a transmissão dos impulsos nervosos. O consumo regular traz benefícios para a concentração, a memória e as habilidades motoras, neutraliza o estresse e previne doenças degenerativas cerebrais.
Mas não é preciso ir tão longe para encontrar pesquisas sobre o combate à violência. No Rio Grande do Sul, uma cientista testou com sucesso uma forma de reduzir a agressividade em camundongos. A psicóloga Rosa Maria Martins de Almeida, pós-doutora em neuropsicofarmacologia, aplicou no cérebro dos animais um medicamento usado contra enxaqueca que imita o papel da serotonina - neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e bem-estar. Há décadas, a ciência sabe que níveis baixos de serotonima estão relacionados com comportamento agressivo.
O fármaco foi injetado em uma área específica do cérebro, chamada de ventro orbital do córtex pré-frontal. Para provocar os animais e, conseqüentemente, avaliar o efeito da droga, foram colocados intrusos nas residências dos roedores. A pesquisa constatou uma redução na agressividade dos camundongos. Agora, pesquisadores norte-americanos começarão a testar a droga em humanos.
- O importante é que a aplicação do medicamento não alterou outros comportamentos, apenas reduziu os níveis de agressividade - afirma Rosa, que é professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Unisinos.
Na tentativa de encontrar uma forma de combater a violência por meio da ciência, a pesquisadora também está estudando uma nova droga, ainda sem uso clínico, que age diretamente em um determinado tipo de receptor da serotonina.
Para o psiquiatra Carlos Salgado, a agressividade por si só faz parte do comportamento animal e não é necessariamente ruim. Graças a essa característica, atletas buscam sempre a vitória no esporte em que praticam, por exemplo.
- Ser agressivo é diferente de partir para a agressão. Se houve agressão, ocorreu um ato que prejudicou alguém. E isso, com freqüência, está associado a outros distúrbios psiquiátricos ou ao abuso de álcool e drogas - diz.
Nos últimos anos, cientistas localizaram no cérebro as zonas produtoras de estímulos de agressão e sua mediação e constataram como se processa esse estímulo. Quando o indivíduo enfrenta uma situação de medo ou de raiva, a amígdala e o hipotálamo, áreas mais primitivas do cérebro, enviam um sinal ao córtex pré-frontal, que cria uma resposta consciente para a informação recebida.
- Nesse momento, a pessoa pode partir para a briga ou argumentar civilizadamente - explica Renato Zamora Flores, professor de genética da UFRGS.
Em crianças submetidas constantemente a situações de estresse e medo, ocorre a descarga dos hormônios cortisol, adrenalina e noradrenalina. Essas substâncias podem fazer o cérebro amadurecer de forma errada, desencadeando comportamentos violentos no futuro.
Prevenção antes do nascimento
O comportamento agressivo pode ser evitado com cuidados que vão desde a gestação até a adolescência
Na gestação
- Evite fumar e consumir bebidas alcóolicas, mesmo que seja ocasionalmente. Pesquisas demonstram que o tabagismo e a ingestão de álcool durante a gravidez aumentam as possibilidades de as crianças desenvolverem o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Quando não diagnosticado e tratado adequadamente, o TDAH favorece o abuso de álcool na adolescência e a delinqüência.
- Faça o pré-natal. Doenças da mãe ou medicamentos usados durante a gravidez podem causar danos cerebrais na criança. Ter um acompanhamento médico previne que isso afete o bebê em gestação
No parto
- Certifique-se das condições do hospital. Traumas no parto ou infecções logo após o nascimento podem trazer prejuízos ao funcionamento cerebral da criança
Na infância
- Evite "chacoalhar" o bebê. As crianças se sentem ameaçadas quando sacudidas. Além disso, seu cérebro pode sofrer danos durante o ato
- Amamente seu filho com leite materno. Pesquisas demonstraram que os ácidos graxos presentes no leite humano podem influenciar o desenvolvimento cerebral
- Dê carinho à criança. Um ambiente rico em experiências prazerosas reduz as chances de o indivíduo ter um comportamento agressivo no futuro.
Zero hora.
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