sexta-feira, 30 de maio de 2008

A juventude nas ruas




Exposta à violência, às drogas e separada dos familiares, uma legião de jovens sobrevive em condições precárias nas vias públicas de Porto Alegre.


De um total de 1,2 mil pessoas adultas que perambulam nas rua e foram contadas por pesquisa da prefeitura e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, metade tem até 34 anos. A ruptura dos laços familiares (41,1%), a falta de condições financeiras (22,8%) e envolvimento com álcool e drogas (15%) são os principais responsáveis pela decadência às ruas.

Os dados compõem o censo da população de rua da Capital, apresentado ontem pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). Realizada no fim do ano passado, a pesquisa identificou 1.203 moradores de rua. Cerca de um terço desse grupo respondeu a um questionário composto por 70 perguntas para possibilitar o mapeamento dos locais onde vivem e a identificação de dados étnicos, socioeconômicos e culturais.

A predominância de jovens entre os moradores de rua expõe a falta de oportunidades de inclusão social, segundo avaliação da coordenadora do Centro Cultural e de Convivência Ilê Mulher, Iara da Rosa, que desenvolve ações com essa parcela da população.

- É a demonstração de que faltam políticas públicas para a juventude. Os jovens não vão mais para o quartel, têm menos chance de inserção no mercado de trabalho e são vítimas da desagregação familiar, das desavenças na comunidade e do tráfico. O desemprego é um problema sério, uma vez que quase 60% já trabalharam com carteira assinada - avaliou Iara.

Para o sociólogo Ivaldo Gehlen, coordenador-geral da pesquisa, a violência e a maior suscetibilidade a doenças reduzem a expectativa de vida da população de rua, o que pode explicar por que apenas 3,2% têm mais de 60 anos.

Por oferecer mais atividades econômicas e serviços públicos aos moradores de rua, Porto Alegre atrai imigrantes. O estudo constatou que quase seis em cada 10 pessoas é de fora da cidade.

- A melhoria dos serviços públicos ampliou a qualidade de vida, mas, por outro lado, aumentou o número de moradores de rua - analisou o sociólogo Ivaldo Gehlen, coordenador-geral da pesquisa.

O drama do desemprego

A explicação para a falta de oportunidades desafia as autoridades, uma vez que a maioria dos entrevistados declarou ter profissão e saber ler e escrever. Predominam atividades autônomas, como as de carpinteiro, serralheiro, marceneiro, pintor e empregada doméstica. Oito têm nível superior.

O desemprego é apontado por uma em cada quatro pessoas para não exercer o ofício aprendido. A falta de documentos, as doenças e a discriminação por ser morador de rua são outros obstáculos relatados no caminho do emprego.

Nas ruas, a sobrevivência ocorre por meio do recolhimento de materiais recicláveis (22,9%), de esmolas (15%) e de cuidar de carros (12,3%). O rendimento mensal é de até um salário mínimo para 55,7% dos que não têm onde morar.

Nas ruas, a rotina da maioria é consumir drogas e álcool e fugir da Brigada Militar. Na pesquisa, os policiais militares são citados como responsáveis por uma em cada quatro agressões, quase o mesmo patamar dos ataques de outros moradores de rua.


Mais pessoas na rua:

- Em 13 anos, a população de rua da Capital cresceu mais de quatro vezes.

- Em 1995, um estudo do Núcleo de Estudos sobre População de Rua e da então Fundação de Educação Social e Comunitária (Fesc), hoje denominada Fasc, apontou 222 pessoas sem ter onde morar na cidade.

- Neste ano, o número de 1.203 representa um crescimento de 441,8% em relação à pesquisa de 1995.

- No estudo anterior, a metodologia foi diferente: foram incluídos adolescentes entre 14 e 18 anos. Pessoas que viviam em abrigos não foram incluídas como moradores de rua por terem onde passar a noite.

- No estudo atual, foram considerados moradores de rua as pessoas que passam a noite em albergues e abrigos com idade superior a 18 anos.

- Para a presidente da Fasc, Brizabel Müller da Rocha, o crescimento da população de rua é atribuído a migrações populacionais, questões socioeconômicas e desagregações familiares.

A pesquisa

- Intitulada Cadastro e Estudo do Mundo da População Adulta em Situação de Rua de Porto Alegre, a pesquisa teve como objetivo recensear a população de rua, mapear os locais onde vivem e identificar dados étnicos, socioeconômicos e culturais. O estudo também teve a intenção de conhecer as estratégias de trabalho e geração de renda dos moradores de rua, sua relação com as instituições e suas demandas para as políticas públicas.

- A pesquisa foi elaborada pelo Laboratório de Observação Social (Labors), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), supervisão e acompanhamento da Fasc. A pesquisa, que envolveu cerca de 50 profissionais, foi financiada pelo Ministério de Desenvolvimento Social (MDS).

- Foram identificados 1.203 moradores de rua. Cerca de um terço respondeu a um questionário composto por 70 perguntas. A coleta de dados foi realizada entre 28 de novembro e 23 de dezembro passados. Em janeiro, foi feita uma conferência dos dados coletados.


Zero Hora.

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