quinta-feira, 22 de maio de 2008

Artigo - Somos todos responsáveis

Várias investigações mostram que a intimidação, ou "bullying", não é o fenômeno mais grave que acontece no espaço escolar

O CONCEITO de violência, assim como o tema das violências nas escolas, tem sido muito discutido. Apesar das concepções e visões do fenômeno, várias investigações demonstram que a intimidação -o "bullying", como tem sido chamado- não é o fenômeno mais grave que acontece no espaço escolar.

Além da violência física e verbal, em todas as investigações feitas em vários países se destacam as agressões verbais entre alunos, bem como ameaças, agressões físicas, discriminação racial e sexista, roubos, violência sexual, presença de gangues e tráfico de drogas. A relação entre aluno e professor é, muitas vezes, tensa, passando por violência verbal, ameaças e discriminação por ambas as partes.

A violência na escola é um fenômeno gritante, já que tem enorme potencial de desorganizar o processo de ensino e aprendizagem e desestabilizar a relação entre os atores que convivem com ela. Isso vem tornando inviável o cumprimento do papel social da escola: formar -no sentido amplo- crianças, adolescentes e jovens.

A escola, nesse caso, pode apresentar restrições e obstáculos para a aprendizagem satisfatória, tal como um ambiente hostil.

Uma das melhores respostas às violências nas escolas é a ativa participação das autoridades do setor educativo, com pais e sociedade civil, e com interesse e apoio, que espero ser sistemático, dos meios de comunicação.

O tema está presente no cotidiano de todos. Estamos identificando com mais precisão e interesse situações de conflito que se transformam em violências, sejam físicas, verbais ou simbólicas. O uso do plural, "violências", demonstra que estamos falando de vários tipos de violência e em distintos níveis.

As situações mencionadas existem há tempos, ainda que talvez não tão visíveis quanto agora. Esse aumento da visibilidade das violências nas escolas está permitindo identificar e tratar de enfrentar o problema e buscar respostas adequadas.

É desnecessário e ineficiente começar uma caça ao culpado dessas violências alarmantes. Em geral, a família acusa a escola e vice-versa, transferindo a responsabilidade de uma para a outra. As duas instituições deveriam ter o papel de cooperar entre si, já que a educação pretende formar para a cidadania, a convivência, os valores e os princípios éticos.

É importante, sim, realizar diagnósticos e propor estratégias de intervenção. É necessário conseguir que seja aceita a corresponsabilidade que todos temos -pais, mestres, educadores, alunos, autoridades em geral, meios de comunicação e informação- não só no aumento inaceitável dos níveis de violência mas também na rápida e eficaz resposta para sua drástica redução.

Lamentavelmente, muitas vezes no cotidiano, comprovamos que, ante uma situação de conflito, a violência é uma resposta mais generalizada que o diálogo. Todos, alunos, pais e cidadãos em geral, somos testemunhas da falta de maturidade, da incivilidade, da falta de respeito à diversidade, da falta de aceitação do outro. Na escola, no trânsito, nos esportes, nos negócios e na política, temos exemplos constantes da contestação da autoridade, do abuso, da arbitrariedade.

A violência em geral e as violências nas escolas, em particular, são um fenômeno que todas as sociedades, desenvolvidas ou em desenvolvimento, enfrentam. Porém, essas violências estão mais presentes nas sociedade mais desiguais, mais excludentes, menos maduras, menos éticas, mais arbitrárias. Reduzir a violência implica reduzir as desigualdades, a exclusão sistemática, as arbitrariedades.

Como já expressei: "A resposta para a violência não deve ser somente repressora. Não há dúvida de que as condutas inaceitáveis devem ser devidamente punidas e deve haver limites, mas as respostas não devem se limitar à expulsão de alunos, como se, ao expulsá-los, estivéssemos também expulsando os conflitos inerentes aos estabelecimentos educativos. Não devemos usar mecanismos aparentemente rápidos para enfrentar problemas que são profundos, que merecem ser analisados, diagnosticados e enfrentados de forma decidida".

Continuo afirmando o mesmo! Entender os porquês das violências, admitir que não são aceitáveis, bem como que impedem o ensino e a aprendizagem, incluir essa problemática nos cursos de formação dos docentes, implementar em todas as escolas programas de mediação escolar que, entre outras coisas, promovam o diálogo entre os principais atores do processo educativo e trazer os pais para um diálogo sistemático com a escola são iniciativas que darão certo.


Por JORGE WERTHEIN, 66, sociólogo argentino, mestre em comunicação e doutor em educação pela Universidade Stanford (EUA), é diretor-executivo da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana). Foi representante da Unesco no Brasil (1997 a 2005) e assessor especial do secretário-geral da OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura) de 2005 a 2006.

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