domingo, 4 de maio de 2008

Resolução de crimes é maior no Interior

A análise das 181 mortes de abril de 2007 revelou uma informação preocupante para cidades da Região Metropolitana: um assassinato cometido no Interior tem três vezes mais chances de ser esclarecido.

Dos 103 casos ocorridos em Porto Alegre e arredores naquele mês, 66 permanecem nas delegacias sem autoria conhecida, o equivalente a 64,1%. Apenas 35 foram enviados à Justiça com esclarecimento. E o pior: na maior parte dos inquéritos em aberto não há perspectiva de se encontrar o matador. Nas cidades do interior do Estado a lógica é inversa. Apenas 10,3% dos assassinatos seguem um mistério.

Policiais e pesquisadores ouvidos por Zero Hora dizem que a diferença pode ser atribuída à motivação das mortes. Predominam nos municípios interioranos as situações provocadas por desavenças entre vizinhos e familiares, geralmente envolvendo pessoas sem antecedentes criminais. Nesses casos, a elucidação é facilitada.

Na Capital e em cidades próximas, é maior a incidência das execuções de gangues e grupos organizados, com envolvimento com o tráfico de drogas. Em crimes assim, a lei do silêncio obstrui o trabalho policial.

- Quando o homicídio acontece por briga ou rixa, a resolução é muito mais fácil. Normalmente, os parentes e vizinhos acabam desvendando para a polícia a natureza do crime. Quando é disputa por tráfico de drogas, ninguém dá testemunho, e a polícia acaba não resolvendo - diz Eduardo Cerqueira Batitucci, pesquisador da Fundação João Pinheiro, de Minas Gerais, que estuda assassinatos há mais de 15 anos.

Para a doutora em sociologia e pesquisadora da Academia de Polícia Civil do Rio Grande do Sul Acácia Maria Maduro Hagen, o testemunho é a ferramenta mais importante para os policiais durante uma investigação de homicídio.

- É das pessoas que partem as informações fundamentais para a polícia. Isso é muito mais importante do que o aparato técnico. Os homicídios com crianças geralmente são esclarecidos rapidamente porque as pessoas se comovem e se motivam a falar - explica Acácia, que em 2005 estudou 57 assassinatos em Porto Alegre.

No Interior, observa a pesquisadora, há maior proximidade da comunidade com os policiais. Há mais chance de a polícia receber informações sobre os envolvidos em uma morte, mesmo que seja informalmente.

- No Interior, os delegados conhecem as pessoas pelo nome e, geralmente, são atacados na rua pelos moradores para conversar. Aqui (na Região Metropolitana), isso não acontece. Ninguém sabe quem são os policiais - lembra Acácia, que está iniciando outra pesquisa sobre homicídios.


Zero Hora.

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