terça-feira, 20 de maio de 2008

Que tal a solidariedade cotidiana?

"SISMO DEFLAGRA ONDA INÉDITA DE SOLIDARIEDADE" na China, este é o título da matéria de O Globo de 18.5.08, p. 37. Adoção de crianças que ficaram órfãs na tragédia. Jovens que buscam ajuda para os desabrigados. Donos de carros que comparecem aos locais de recolhimento de doações oferecendo seus veículos para ajudar na entrega de comida e roupas. Empresas de todo o país que doam dinheiro e produtos. Voluntários que fazem fila nos centros de coordenação de resgate. Milhões de yuans em dinheiro vivo doados à Cruz Vermelha da China.

Todas estas ações instituem o que podemos denominar a economia do dom e da gratuidade num país em que prevalece o paradigma do patriarcalismo estatal em nome do socialismo.
Triste engano, que distorce o sentido mesmo do socialismo e também aliena e ilude. O verdadeiro socialismo depende do empoderamento e da tomada de consciência cidadã de cada indivíduo e comunidade, e não de assistencialismo da parte do Estado.
Onda de solidariedade em contexto de catástrofe...; mas, por que não no cotidiano das pessoas, seja na China seja em qualquer país do mundo?

A economia da solidariedade é o caminho para desmontar a ilusão de que a solidariedade é uma exceção, guardada no armário do nosso peito para os momentos de crise e desastre.
Mas para ela se tornar realidade no nosso cotidiano, precisamos desmontar os pés da mesa que sustenta o paradigma do egoísmo, da competição e da separatividade.

Precisamos substituir o sistema da propriedade privada dos bens e recursos produtivos pelo sistema da partilha e da posse. De cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo sua necessidade. Posse dos bens produtivos concedida pela comunidade e pela sociedade segundo a capacidade de uso pessoal e social desses bens. Dinheiro não mais para especulação e enriquecimento virtual, mas para facilitar trocas solidárias entre pessoas, comunidades, empresas e países, e para servir de apoio à produção voltada para as necessidades materiais e imateriais do ser humano. Trabalho necessário sendo reduzido à medida que cresce a produtividade da economia, a fim de liberar o tempo das pessoas para trabalhar no desenvolvimento dos seus potenciais superiores, especificamente humanos: o cuidado consigo próprio, com os outros e com o meio natural, a produção e o usufruto da beleza, as atividades culturais, a comunicação, a construção de unanimidades na diversidade, a espiritualidade, o amor. Educação com base nos valores da cooperação, da reciprocidade, da partilha, da solidariedade, da liberdade, igualdade e irmandade.

Que a onda de solidariedade se torne o modus vivendi da sociedade humana - eis o caminho para a felicidade e para a verdadeira paz.

* Socioeconomista e educador do PACS - Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, Rio de Janeiro. Sócio do Instituto Transnacional e facilitador da Unipaz.


Adital.

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