sábado, 3 de maio de 2008

Pai tentou socorrer Isabella, diz inquérito

Um vizinho disse ao pai que não mexesse na criança, pois o resgate estava à caminho. Advogados ainda não tiveram acesso ao inquérito completo.

Testemunhas que prestaram depoimento no inquérito que apura a morte da garota Isabella Nardoni, de 5 anos, morta no dia 29 de março, após cair do sexto andar do prédio onde vivia seu pai, afirmaram que o pai da menina, Alexandre Nardoni, tentou socorrê-la ao vê-la caída no gramado do prédio, mas foi impedido por um vizinho.

De acordo com os depoimentos que constam no inquérito, um vizinho gritou alertando o pai que não mexesse na criança, porque o resgate já estava à caminho. Essa informação pode favorecer a defesa.

Outros detalhes que podem ser explorados pelos advogados do pai e da madrasta, Anna Carolina Jatobá, são os horários que aparecem no inquérito. Um morador contou que no dia do crime, ouviu uma discussão entre homem e mulher, às 23h. Disse ainda que quando ouviu uma mulher dizendo: "jogaram Isabella do sexto andar" o relógio marcava 23h23. No entanto, a empresa que monitorava o rastreador do carro do pai da menina informou que o carro de Alexandre foi desligado, na garagem do prédio, às 23h36.

Perfis psicológicos

O relato de testemunhas foi o que orientou a polícia a descrever os perfis psicológicos do pai e da madrasta de Isabella. Às 23h49 de 29 de março, um vizinho ligou para a polícia, desesperado, sem saber direito o que tinha acontecido. O inquérito relata o pedido de ajuda: “Pelo amor de Deus, filha. Tem ladrão no prédio, jogaram uma criança lá de cima. Pelo amor de Deus”.

Um minuto depois, outra ligação para o Corpo de Bombeiros: “Uma criança caiu aqui, cara, do terceiro ou do quarto andar”. O inquérito reproduz várias ligações com pedidos de socorro. Nenhuma partiu do apartamento nem do celular de Alexandre Nardoni.

Os cinco volumes do inquérito têm 64 depoimentos. Além do relato do vizinho que na noite do crime contou ter ouvido uma criança gritar "papai, papai, papai... Pára, pára", a polícia colheu um depoimento semelhante de uma moradora do prédio ao lado.

A vizinha, que tem visão para o apartamento dos Nardoni, disse à polícia que sempre ouvia uma criança chorando, à noite ou de madrugada, várias vezes. Um choro prolongado, provavelmente de criança que estava apanhando da mãe. Diversas vezes, chegou a ouvir a voz dessa criança, falando: "pára mãe, pára mãe".

Em 2 de abril, prestaram depoimento os pais da madrasta de Isabella. Anna Lúcia Jatobá e Alexandre José Peixoto Jatobá declararam à polícia que Anna Carolina gostava muito de Isabella e que tratava os filhos com carinho.

Brigas

A avó materna conta que tomou conhecimento de algumas brigas do casal, a ponto de Anna Carolina ir para a casa da mãe até que os ânimos serenassem.

As brigas ocorriam por causa de eventuais ciúmes e também por causa do filho mais velho. Ela diz que entre Anna Carolina e o pai houve desavença no passado pelo fato de os dois terem temperamentos muito fortes. E que, por isso, Anna Carolina chegou a registrar dois boletins de ocorrência contra o pai.

O pai de Anna Carolina confirmou que em duas ocasiões teve desentendimentos com a filha, que resultaram em desrespeito à figura do pai, fato que não aceitou e reprimiu de forma calorosa.

Os avós maternos de Isabella, José Arcanjo e Rosa Maria de Oliveira, também falaram à polícia no mesmo dia. José Arcanjo diz que desde o início do relacionamento, ele e a esposa não aprovavam Alexandre, pois ele era uma pessoa que gostava de demonstrar que sua família seria poderosa e de muitas posses.

Rosa de Oliveira disse que, por conta disso, ela e o marido convenceram a filha a se separar. A avó materna conta que, seis anos atrás, Alexandre tinha sido vítima de uma tentativa de homicídio. O motivo seria, segundo ele, a compra de um carro de um indivíduo jurado de morte. Isso explicaria tiros efetuados na ocasião - história em que Rosa não acreditou.

José Arcanjo conta que, depois da separação, Alexandre e Ana passaram a ter muitas discussões. Depois que Isabella começou a estudar, viu Alexandre ameaçar a sogra de morte, sendo necessária a intervenção do pai de Alexandre, que o levou embora. Os fatos foram registrados numa delegacia.

Um dos advogados do casal, Ricardo Martins, disse que em nenhum momento a defesa teve acesso ao relatório conclusivo da polícia. E considera frágeis as provas divulgadas até o momento. Na segunda-feira (5), os advogados vão tentar obter uma cópia do documento, no Fórum de Santana, Zona Norte de São Paulo.


Agência Brasil.

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