terça-feira, 20 de maio de 2008

O preconceito também faz vítimas na infância

A partir dos 4 anos surgem as primeiras manifestações de discriminação. A escola e os pais devem trabalhar juntos para inibir esse tipo de comportamento.


Pode parecer difícil de acreditar, mas, a partir dos 4 anos, crianças já podem ser alvo de manifestações de preconceito, principalmente na escola. Nesse período da infância, a cor da pele, os óculos, os quilos a mais ou mesmo o rendimento nas aulas passam a ser motivo para deboche e piadinhas. Especialistas apontam vários motivos para o aparecimento desse tipo de comportamento e ressaltam a necessidade de se trabalhar com a questão tanto na escola como em casa.

“O preconceito começa a se manifestar desde muito cedo devido à forma como a família lida com as diferenças. Mas é quando a criança começa a desenvolver a comunicação verbal que é possível perceber que ela já absorveu essas concepções”, explica a psicóloga Vera Regina Miranda, professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e da Universidade Positivo.

A psicóloga clínica Denise Heller, professora da Universidade Tuiuti do Paraná, diz que, a partir dos 4 anos, a auto-imagem do indivíduo começa a se formar, fazendo com que a criança preste atenção também à imagem corporal dos colegas e passe a fazer uma separação entre o que considera feio e o bonito. “E tudo o que não é tido como bonito vira motivo para comentários, como o cabelo, a cor da pele ou o fato de o amiguinho ser gordinho”, afirma.

A professora do setor de Educação da Universidade Federal do Paraná, Tânia Maria Baibich-Faria, acrescenta que essa idade é significativa para as crianças, pois marca o começo do relacionamento em grupo. Isso ocorre, principalmente, em função do ingresso na escola.

Convivência

Independentemente dos motivos pelos quais o preconceito começa a se manifestar nos indivíduos, todos os especialistas concordam que pais e professores devem se preocupar com essas demonstrações de intolerância para que essa atitude não se estenda à adolescência e até mesmo à vida adulta. O coordenador do curso de Psicologia da Unibrasil, César Rey Xavier, explica que o preconceito é uma manifestação psicológica das associações que a criança faz com base nas referências que ela tem. “Essa intolerância surge da incapacidade ou da dificuldade do ser humano em lidar com tudo aquilo que é diferente de seu padrão de vida, que pode ser racial, social, cultural.”

Para o psicólogo, a única solução para vencer o preconceito é uma educação que mostre à criança as vantagens de se conviver com aqueles que são diferentes. “É preciso surpreendê-las, mostrar a elas que as diferenças podem trazer muitas experiências e oportunidades, mas essa educação não pode ser forçada nem racional”, comenta.

Tânia Baibich-Faria ressalta que não há uma receita pronta para isso. “Qualquer que seja o caminho, acredito que é preciso atingir ao mesmo tempo mente, vísceras e coração, inventando maneiras para que o ‘agressor’ possa se imaginar no lugar do outro, mas não apenas de maneira descritiva.” Em alguns casos, até mesmo a transferência de escola pode ser uma solução para o problema, desde que os pais não demonstrem que sempre vão proteger o filho.

Postura

Mesmo de forma não intencional, pais e professores podem contribuir para que as crianças não consigam superar preconceitos. “Boa parte das características das pessoas nasce na sua criação. Se os pais fazem piadas e comentários discriminatórios sobre algum assunto, a criança vai reproduzir isso”, comenta Vera Miranda. No caso dos professores, é necessário que eles tenham treinamento adequado para lidar com as manifestações de preconceito entre as crianças. “É uma pena que muitos professores entrem nessas brincadeiras, se tornando cúmplices e deixando que uma criança seja maltratada.”

Além disso, é necessário que pais e professores fiquem atentos para que as brincadeiras inocentes não acabem se tornando um problema muito maior. “Quando um grupo de crianças se junta para excluir outra, essa pode estar sendo vítima do bullying. A prática contribui para o ataque à auto-estima, que pode ser levado para a vida inteira”, explica Denise. De acordo com ela, a solução para evitar que isso aconteça é ensinar os pequenos a se defender das piadinhas, com respostas à altura, para que elas não se repitam.


Gazeta do Povo.

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