quarta-feira, 7 de maio de 2008

Mortos em Mianmar passam de 22 mil e há 41 mil desaparecidos

ONU começa a distribuir comida em Rangum e Bush pede à junta militar birmanesa que aceite a ajuda dos EUA.

Rangum, Mianmar - O governo militar de Mianmar (ex-Birmânia) elevou ontem para 22.500 o número de mortos pelo ciclone Nargis que atingiu no sábado o delta do Rio Irrawaddy e a cidade de Rangum, a principal do país, com ventos de 190 km/h. As autoridades também alertaram que há 41 mil desaparecidos, o que deve elevar ainda mais a cifra de mortos.

"Mais mortes foram causadas pelas ondas gigantes do que pela própria tempestade", disse o ministro responsável pelos trabalhos de ajuda, Maung Maung Swe. "As ondas tinham mais de 4 metros e arrasaram e inundaram metade das casas dos vilarejos costeiros. Eles (os moradores) não tinham para onde ir."

Apenas 671 das mortes ocorreram em Rangum, a antiga capital, e distritos periféricos. Cerca de 10 mil pessoas morreram na cidade costeira de Bogalay. Três dias após a tragédia, as equipes de socorro ainda não haviam chegado a alguns vilarejos distantes. Na área do delta, testemunhas disseram que 16 vilarejos e a cidade de Laputta simplesmente desapareceram sob as águas.

O Programa Mundial de Alimentos começou ontem a distribuir comida em Rangum, que ainda estava sem eletricidade e água potável. Um porta-voz da agência da ONU disse que pelo menos 1 milhão de pessoas perderam suas casas. As agências humanitárias descreveram a devastação como sendo similar à do tsunami de 2004, que atingiu vários países asiáticos e deixou quase 200 mil mortos.

Apesar da magnitude do desastre - o pior ciclone na Ásia desde 1991, quando 143 mil pessoas morreram em Bangladesh -, a França disse que a junta militar, que governa o país desde 1962, ainda estava impondo várias condições para a entrada de ajuda. "A ONU está pedindo ao governo birmanês que abra suas portas, mas a junta responde: ?Dê-nos dinheiro, nós o distribuiremos.? Não podemos aceitar isso", disse o chanceler francês, Bernard Kouchner, ao Parlamento.

O presidente americano, George W. Bush, fez ontem um raro apelo ao governo de Mianmar para que aceite a assistência dos EUA e anunciou o envio de US$ 3 milhões por meio da Agência Internacional de Desenvolvimento, além da contribuição inicial de US$ 250 mil.

Moradores e diplomatas estrangeiros criticam a ineficiência do governo para lidar com a situação. O ministro birmanês de Informação, Kyaw Hsan, disse que o Exército estava "fazendo o possível", mas os analistas afirmam que o desastre poderá trazer conseqüências negativas para a junta militar, que se orgulha de sua capacidade de lidar com qualquer desafio.

O devastador ciclone pode tornar-se uma ameaça maior aos generais do que as manifestações pró-democracia de setembro ou as sanções internacionais. Apesar da tragédia, a junta militar anunciou que realizará no sábado o programado referendo sobre a nova Constituição que, para os críticos, tem como objetivo consolidar os militares no poder. Mas disse que pode haver um adiamento, para o dia 24, nas regiões afetadas.

O ministro da Informação assegurou que o governo tem reservas suficientes de arroz, apesar dos danos causados ao grão armazenado na área do delta de Mianmar, que 50 anos atrás era o maior exportador de arroz do mundo. Relatórios preliminares indicam que o ciclone destruiu as áreas de cultivo de arroz do país, o que deve afetar ainda mais os preços mundiais e dificultar os esforços do governo para lidar com a situação sem ajuda externa.


Estadão.

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