sexta-feira, 9 de maio de 2008

Mágico americano quer bater recorde e passar 16 minutos sem respirar






David Blaine está estudando técnicas para reduzir necessidade de respirar.
Idéia é explorar recursos usados rotineiramente por golfinhos e baleias.

Enquanto um médico monitorava seu coração, sangue e respiração, David Blaine encheu seus pulmões com oxigênio puro e se preparou para prender a respiração –- por 16 minutos, ele esperava. Blaine é um famoso mágico, mas ele insistiu que isso não era um truque.

Ele estava treinando para quebrar o recorde mundial em prender a respiração, um passo suficientemente lógico em sua outra carreira. Como um auto-intitulado artista da tolerância, ele passou 35 horas sobre um poste de 31 metros de altura e sobreviveu uma semana enterrado em um caixão. Jejuou durante 44 dias dentro de uma caixa suspensa sobre o Tâmisa, um experimento nutricional que foi publicado no "The New England Journal of Medicine" (com Blaine listado como um co-autor).


Este experimento de prender a respiração, conduzido na semana passada em uma piscina nas Ilhas Cayman, estava sendo realizado por Ralph Potkin, um médico especialista em pulmões em Los Angeles, que é um pesquisador tentando entender a propensão dos humanos a ficar sem ar.


Esta habilidade não é nova -– envolve um antigo reflexo compartilhado com golfinhos e outros mamíferos –- mas só foi redescoberto recentemente, graças principalmente ao esporte de mergulho livre. Usando apenas seus pulmões, os mergulhadores livres foram cada vez mais fundo e prenderam a respiração por mais tempo do que qualquer um esperava.

“Os resultados empíricos excederam consistentemente as previsões teóricas”, diz Potkin. Ele é o médico responsável pelo time de mergulho livre dos Estados Unidos, cujos membros estavam treinando nas Ilhas Cayman juntamente a Blaine.




Recordista do passado

Um século atrás, Houdini foi celebrado por conseguir prender sua respiração por três minutos e meio. Hoje até mesmo um novato consegue rapidamente aprender a durar mais que isso, conforme descobri sob a tutela de Kirk Krack, o treinador de mergulho livre que preparou Blaine para sua tentativa de quebrar o recorde mundial.


Pesquisadores nos anos 1960 calcularam, com base na capacidade do pulmão e no efeito da pressão da água, que humanos não podiam mergulhar abaixo de 50 metros. Hoje os mergulhadores livres descem a mais de 180 metros e retornam aparentemente em ótima forma. Na maioria das vezes.


No dia anterior a sua tentativa na piscina, Blaine estava praticando no oceano e disse que estava indo para um mergulho de 30 metros, tão rotineiro que nem se preocupou em fazer o ritual preparatório usual: uma lenta e contínua inspiração, seguida de expirações para expulsar o dióxido de carbono e uma série final de rápidas tragadas de ar chamadas “lung-packing” (algo como “fazer as malas” do pulmão).


Ele desapareceu nas profundezas e então reapareceu, cerca de dois minutos depois, nadando suavemente para cima junto a uma corda-guia. Mas a cerca de seis metros da superfície, ele repentinamente se afastou da corda e pareceu lutar para subir com seus braços batendo. Seu treinador, Krack, reconheceu instantaneamente os sintomas de uma perda de consciência e apressou-se em agarrar Blaine, mantendo sua cabeça acima da superfície até ele recobrar os sentidos.


Ele havia sucumbido, diz Potkin, a um dos mais comuns (e algumas vezes fatais) perigos do mergulho livre –- e um dos motivos pelos quais você não deve tentar prender a respiração de maneira prolongada, a menos que alguém como Krack esteja supervisionando.


“Mergulhadores raramente enfrentam problemas em profundidade”, diz Potkin. “Mas quando o mergulhador vai se aproximando da superfície, a diminuição na pressão da água causa uma queda de pressão do oxigênio no cérebro. Se o nível no cérebro se torna baixo demais, é como um interruptor: as luzes se apagam.”


Blaine, previsivelmente, pareceu tranqüilo assim que se recuperou. O que é um pequeno desmaio para um cara que já ficou envolto num bloco de gelo por 63 horas? Ele culpou o excesso de confiança (ele havia descido 6 metros a mais do que o planejado) e sua relativa inexperiência com mergulho.


Sua especialidade é apnéia estática: segurar a respiração enquanto se mantém imóvel numa piscina. Isso requer algumas das mesmas habilidades necessárias para ser enterrado vivo por uma semana, diz Blaine: “Está tudo na sua mente. Você tem de manter-se calmo e diminuir o ritmo de tudo.”




Problemas à vista

O impulso natural de parar de prender a respiração (que ocorre tipicamente dentro de 30 segundos ou um minuto) não resulta da falta de oxigênio, mas sim do doloroso acúmulo de dióxido de carbono. Blaine disse que começou a tentar vencer essa necessidade ainda criança, no Brooklyn, e aos 11 anos já conseguia prender a respiração por três minutos e meio.


Em seu treinamento atual, diz, todas as manhãs ele faz exercícios em que respira por não mais que 12 minutos ao longo de uma hora, e dorme em uma tenda hipóxica em seu apartamento de Manhattan que simula o ar rarefeito a 15 mil pés acima do nível do mar.


Ele tem se concentrado em reduzir seu consumo de oxigênio, tornando seu metabolismo mais lento, parte através de dieta (ele jejuou por 18 horas antes de prender a respiração na piscina) e parte com relaxamento. Em um teste de Potkin, controlado, Blaine baixou rapidamente seu batimento cardíaco em 25%. “David parece ter uma habilidade fenomenal, como os monges budistas, de controlar seu corpo”, diz Potkin.


Quando Blaine iniciou o teste na piscina, seu batimento cardíaco caiu de 81 para 46 no primeiro minuto, uma queda que não foi mérito inteiramente seu. Submergir o rosto na água produz uma ação protetora em humanos similar ao que ocorre com golfinhos, focas, lontras e baleias. Chamada de reflexo de mergulho mamífero, ela rapidamente baixa o batimento cardíaco e constringe as veias sanguíneas nas extremidades, de forma que o sangue fica reservado para o coração e para o cérebro.


Ao explorar esse reflexo, mergulhadores livres conseguem permanecer ativos embaixo d´água por mais de quatro minutos, e por muito mais tempo se ficarem parados. Os recordistas mundiais passaram de nove minutos enchendo os pulmões com ar comum, e mais de 16 minutos inalando oxigênio puro.


Enquanto Potkin monitorava os eletrodos ligados ao corpo de Blaine, Krack estava na piscina com ele atento a sinais de perigo, como lábios azuis, e periodicamente instruindo-o a mover um dedo para mostrar que estava consciente. Fora isso, Blaine manteve-se imóvel até ouvir que havia alcançado os 16 minutos.


Ele emergiu e atingiu a superfície a 16:09 – parando, como havia planejado, muito pouco antes (apenas 5 segundos) do recorde em apnéia com oxigênio puro do recorde mundial do Guiness. Ele disse que poderia ter ficado mais tempo, mas queria se segurar até sua tentativa formal em 30 de abril, frente aos juízes do Guiness e com audiência televisiva ao vivo no “The Oprah Winfrey Show”.


“Senti-me muito bem”, Blaine disse logo após sair da água, soando perfeitamente lúcido e sorrindo com lábios rosados. “Eu nem mesmo estava lá na maior parte do tempo. Me imaginei no fundo do oceano.”

Alguma dor ao longo dos 16 minutos?

“Nem mesmo um pouquinho”, ele respondeu.

Ninguém tem certeza dos efeitos neurológicos em longo prazo de uma apnéia tão prolongada, diz Potkin, mas seus exames em Blaine (incluindo os resultados subseqüentes dos exames de sangue) não mostraram quaisquer problemas ou anormalidades.


“Muitos médicos ainda não percebem que o corpo pode tolerar apnéia prolongada tão bem”, diz Potkin. “Minha esperança é entender o processo para que possamos aplicar as lições em ajudar as pessoas com doenças no coração e nos pulmões e problemas neurológicos.”


Blaine disse também esperar que seus esforços tragam algum benefício em longo prazo, mas sua preocupação imediata é quebrar o recorde mundial. Ele fez 16 minutos parecerem fáceis na semana passada, mas fazê-lo numa piscina no Caribe não é o mesmo que ao vivo na televisão. Até mesmo um monge budista pode ter problemas para controlar seu batimento cardíaco no programa da Oprah.


G1.

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