sábado, 24 de maio de 2008

Horror em Johannesburgo

Um dos países com os mais altos índices de criminalidade do mundo, no continente mais violento do mundo, ainda assim a África do Sul de Nelson Mandela e Desmond Tutu - ambos agraciados com o Prêmio Nobel da Paz - projetava desde o fim do apartheid, em 1994, uma imagem singular. Não só por ser a única nação industrializada e relativamente moderna do universo africano, mas por ser uma vibrante democracia política numa região em que a norma é uma seqüência interminável de regimes ditatoriais cada um mais feroz que o outro, combinados com guerras civis e matanças étnicas incontidas cujas vítimas se contam aos milhões. (Na ironicamente chamada República Democrática do Congo, um país do tamanho da Europa Ocidental, por exemplo, cometem-se “atrocidades indizíveis”, segundo recentes relatos da imprensa.)

Pois a singularidade da África do Sul é o que torna ainda mais estarrecedora a onda de ataques selvagens dos últimos dias a imigrantes também africanos em Johannesburgo, a sua maior cidade (3,8 milhões de habitantes) e principal centro econômico. Nas favelas e bairros periféricos, hordas que a polícia tardou a enfrentar desencadearam um verdadeiro pogrom contra os “ladrões de empregos”, como se referiam aos clandestinos vindos do Malauí, Moçambique e, sobretudo, Zimbábue. Eles de fato competem com os nacionais pelos parcos postos de trabalho disponíveis - o desemprego no país beira 40%, segundo cálculos extra-oficiais -, aceitando receber, sem direitos, uma fração do que se pagaria no mercado formal. Estima-se que os imigrantes cheguem a 5 milhões, dos quais 3 milhões procedentes do Zimbábue.


Estado de São Paulo

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