A forma que os meios de comunicação e as autoridades abordam o feminicídio constitui um atentado contra os direitos humanos, já que a informação constantemente tende a culpar as vítimas, disse à Agência Cerigua, Carolina Ravera, do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com sede no Paraguai.
Em uma entrevista eletrônica, Ravera destacou que o recente caso de três jovens assassinadas e encontradas em um caminho que leva a Estanzuela, na cabeceira departamental de Zacapa (Guatemala), foi abordado com irresponsabilidade pelos jornalistas, já que os conteúdos incluíram preconceitos e desvalorizaram as mulheres.
O jornal Nuestro Diario colocou o fato na manchete "Saem para se divertir e são baleadas", abordagem que coloca o veículo entre a lógica do mercado e a cultura guatemalteca. Entretanto, a tarefa de um comunicador deve apontar para a colaboração com a transformação das mesmas, disse a profissional.
Ante um atentado contra os direitos humanos, baseado no gênero, como é o feminicídio, é inevitável a responsabilidade de um repórter, que deve escrever sua notícia livre de sexismo e com um olhar que contribua para a construção de relações mais igualitárias, disse a representante.
Na opinião da especialista, a linguagem jornalística não está isolada da realidade social, uma realidade que promove e reforça constantemente estereótipos, desigualdades e discriminações, por isso se deve titular as notícias deixando de lado adjetivações vãs que não colocam a informação objetiva do fato.
Eusebio Martínez, pesquisador auxiliar da Procuradoria dos Direitos Humanos (PDH) de Zacapa, disse que, no caso das duas menores de idade e uma dona de casa de 18 anos assassinadas em 21 de abril, os meios contribuíram para que a população condenasse as vítimas como as principais responsáveis pelo que aconteceu.
As autoridades, em diversas ocasiões, buscam elementos que justifiquem as causas dos assassinatos para não investigar, informação que é retomada pelos meios de comunicação e transmitida para a população, que julga moralmente e equivocadamente às afetadas, acrescentou Martínez.
Mayra Sandoval, representante do Defensor do Povo, disse que as pesquisas preliminares revelaram que uma das vítimas era explorada sexualmente por seus familiares, o que a colocava em uma situação de vulnerabilidade, tanto no âmbito público como no privado, sem que as respectivas autoridades intervissem.
A matéria é da Cerigua, por Melissa Vega.
Adital.
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