sábado, 24 de maio de 2008

Fator biológico não age isoladamente, dizem especialistas

Estudiosos e psicólogos forenses afirmam que questões psicológicas e sociais são importantes e determinantes.


As pesquisas sobre a influência de fatores biológicos no comportamento violento e, muitas vezes, criminoso são muito bem recebidas por especialistas, mas desde que não venham chanceladas como solução milagrosa para o problema da violência. O único consenso sobre o tema é que o comportamento violento tem inúmeras causas, que podem ser genéticas e mesmo sociais.

O psicólogo forense Alvino Augusto de Sá, professor na Faculdade de Direito da Universidade de São Francisco (USP), explicou que a ânsia social de encontrar uma explicação biológica para os crimes existe porque as pessoas querem se isentar de qualquer responsabilidade sobre eles. "Quando as causas são psicológicas, sociais e econômicas, todos somos co-responsáveis pelos crimes dos outros ou autores em potencial", analisou. É exatamente por isso que casos como o de Suzane von Richthofen, que matou os pais, ou de Isabella Nardoni, cujo assassinato é atribuído ao pai e à madrasta, causam tanta comoção. "Todos pensam sobre a possibilidade de vir a cometer um crime assim."

A escritora Ilana Casoy, especialista em serial killers, afirma que o comportamento criminoso e violento tem três causas, que não podem ser vistas isoladamente: biológicas, psicológicas e sociais. "É um tripé inseparável", definiu. Segundo ela, um fator biológico pode ser de risco quando há outras circunstâncias presentes, mas não chega a ser determinante sozinho. "É como no caso de uma pessoa com baixa imunidade e que está dormindo mal há muito tempo. Ela tem mais chance de pegar gripe, mas não é que, obrigatoriamente, vai pegar", explicou.

"Não existe uma causa biológica para o crime. Há uma associação de causas", afirmou o psiquiatra forense Daniel Barros, coordenador do Núcleo de Psiquiatria Forense (Nufor), da USP. "Os estudos biológicos sobre comportamento violento são estatísticos. Por exemplo, na população de criminosos, há mais pessoas com determinada alteração cerebral do que entre os não criminosos. Mas há criminosos sem a alteração e não criminosos com a alteração." E os fatores biológicos podem ser de nascença ou adquiridos, como após um derrame cerebral ou sucessivos abusos sexuais e agressões físicas na infância.

Na opinião de Ilana, é importante que se juntem as pesquisas ligadas à violência às realizadas nas mais diversas áreas, para que possa atuar de forma mais eficaz em prevenção. "Nas pesquisas biológicas, o Brasil tem a desvantagem de ser pobre. Se existe uma fila de meses no Hospital das Clínicas para passar os doentes no tomógrafo, como se poderia examinar criminosos? Nos Estados Unidos, por exemplo, onde há pesquisas avançadas nessa área, não se tira vaga em fila da saúde para fazer pesquisa."

Barros disse que a prevenção, do ponto de vista do interesse social, é fortalecer os vínculos familiares e melhorar a educação, a saúde e as demais áreas em que o Estado deve dar assistência à população. "A intervenção só deve ser biológica se houver um determinante claro na pessoa."


Estadão.

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