quarta-feira, 21 de maio de 2008

Cidade britânica lança 'cartão do direito de morrer'




A cidade britânica de Salford, ao noroeste da Inglaterra, está oferecendo aos moradores um cartão que possibilita a qualquer pessoa recusar tratamento em uma emergência médica.

Intitulado Advance Decision to Refuse Treatment (ADRT), (Decisão Antecipada de Recusar Tratamento), o cartão está disponível em bares, agências bancárias, bibliotecas e até em algumas igrejas.

A intenção é que, caso o portador perca a capacidade de tomar decisões como conseqüência de um acidente ou doença, o cartão possa servir para instruir os médicos a evitar o tratamento e a tentativa de recuperação.

Além disso, quem carregar o cartão deve deixar uma declaração detalhada com parentes, amigos ou com o médico da família para que, quando encontrado, os médicos possam saber exatamente como agir, segundo as vontades do portador.

Críticas

Mais conhecido como "cartão do direito de morrer", a novidade ganhou adeptos e críticos na região.

Para aqueles que apóiam o uso do cartão, o novo instrumento é um modo prático de garantir os direitos estipulados no Ato de Capacidade Mental, aprovado em 2007. A legislação prevê que adultos possam planejar diretrizes avançadas sobre os tipos de tratamento a que não querem ser submetidos caso percam a capacidade de decisão.

No entanto, para os críticos, o cartão é uma espécie de atalho para a eutanásia e a novidade pode apressar a decisão de pessoas que não entenderam de forma completa todas as questões envolvidas nestes casos.

O médico Andrew Fergusson, da Sociedade Médica Cristã, afirma que os pacientes devem ter mais autonomia do que antigamente, mas tem receio do que o uso do cartão possa significar para os médicos, que podem ser forçados a trabalhar de "mãos atadas".

Fergusson alerta ainda que o uso de um cartão dizendo "pare" pode levar o médico a mudar o ritmo em uma situação de emergência, o que poderia afetar a tomada de decisão.

A Prefeitura de Salford, que disponibiliza os cartões, afirma que está apenas tornando a informação disponível em locais públicos para que as pessoas possam tomar suas próprias decisões.

As autoridades locais afirmam ainda que as decisões envolvidas no uso do cartão não estão relacionadas apenas com a morte, mas incluem preferências sobre tratamentos e cuidados desejados pelos pacientes.

Idéia

Apesar de ser disponibilizado pela prefeitura local, o "cartão do direito de morrer", foi criado a partir da idéia de uma mulher, que prefere não ser identificada.

Ela trabalha com assistência social e é mãe de um filho que sofre de problemas de saúde mental.

A idéia, no entanto, não é nova. O grupo Dignity in Dying (Dignidade ao Morrer, em tradução livre), que promove o direito dos pacientes no final da vida, também oferece um cartão semelhante aos associados que optam por registrar suas decisões com o grupo.

Uma das usuárias é a assistente de enfermagem Jo Cartwright, de 23 anos. Ela começou a usar o cartão em 2007, depois de registrar suas decisões com o grupo.

Segundo a opção de Cartwright, qualquer médico que encontrá-la incapacitada e saber que há pouca chance de recuperação completa não deve dar nenhum medicamento que prolongue sua vida.

“Não quero ser mantida viva e essa é minha opção”, disse.

Apesar de ainda jovem, ela corre um risco grande de enfrentar uma emergência médica. No ano passado, Cartwright foi para um hospital em emergência com um ataque de pancreatite – uma espécie de inflamação que é fatal em 25% dos casos e que pode voltar a acontecer.

“Eu tenho medo da idéia de ter uma doença terminal ou um acidente que possa me deixar fisicamente viva, mas sem a possibilidade de viver minha vida de forma independente e com a qualidade que considero aceitável”, concluiu.


BBC Brasil.

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