domingo, 4 de maio de 2008

Cadernos trocados por armas

A juventude gaúcha está com o dedo no gatilho. Quase metade dos 143 identificados pela Polícia Civil como suspeitos de 107 dos assassinatos de abril do ano passado tem até 25 anos de idade. Eles correspondem a 46,9% do total dos suspeitos identificados.

Cada vez mais cedo garotos estão trocando os cadernos por armas. Dos 143 identificados nas investigações, 14 não haviam completado 18 anos quando entraram na vida criminosa. Aos 14 anos, um garoto confessou participação no assassinato do menino Guilherme Freze, três anos, em Estância Velha. Em Eldorado do Sul, dois adolescentes de 17 anos admitiram ter atirado no aposentado Sávio Ferreira da Silva, 75 anos. Foram denunciados pela mãe de um deles, que por acaso descobriu o envolvimento do filho com o crime e, motivada pela angústia, contou a história à polícia. Os três garotos matadores estão recolhidos, cumprindo medida socioeducativa.

- O jovem que mata quase sempre é fruto da desagregação familiar - distancia-se da família e se aproxima da criminalidade. Logo consegue uma arma e acaba matando por bobagem - diz o delegado Gerson Mello, diretor do Departamento Estadual da Criança e do Adolescente.

Uma pesquisa para o Mestrado em Ciências Criminais da Pontifícia Universidade Católica, concluída no ano passado, mostrou que os jovens lideram a lista dos matadores. A análise feita pela pesquisadora Maura Basso em 165 assassinatos ocorridos na Capital em 2005 revelou que a média de idade dos indiciados é 27 anos, e rapazes com 21 anos predominavam.

- Constatamos que a média de idade das vítimas é a mesma dos acusados. Jovens estão sendo mortos por jovens - observa Maura.

O levantamento de ZH revela que o perigo pode estar por perto. Dos assassinos identificados, mais da metade mantinha ligações próximas com as vítimas - 20,3% eram amigos, 16,8% vizinhos e 16,1% familiares.

- Especialmente nas cidades menores, as mortes ocorrem por situações fúteis - uma disputa de honra, uma rixa de bar ou um desentendimento. Quase sempre há uma testemunha ou a relação entre envolvido e vítima é próxima, o que facilita a investigação - destaca o pesquisador Eduardo Cerqueira Batitucci.

No início de abril deste ano, a Secretaria da Segurança Pública divulgou um estudo sobre 384 homicídios ocorridos no primeiro trimestre deste ano no Estado. O levantamento mostrou que 73,9% dos mortos conheciam seus assassinos.


Zero Hora.

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