sexta-feira, 9 de maio de 2008

ALERTA - Uma bomba chamada 'pílula do dia seguinte'

FOLHA apurou que mulheres estão abusando do contraceptivo que só deveria ser usado em casos de emergência.

Os ginecologistas são taxativos: os contraceptivos de emergência - mais conhecidos como ''pílulas do dia seguinte'' - não devem ser utilizados regularmente. Os problemas para quem adota tais pílulas são diversos. Porém, muita gente parece ignorar o que recomendam os médicos. A reportagem da FOLHA foi às farmácias e constatou: muitas mulheres e adolescentes estão utilizando os contraceptivos de emergência toda semana.

''Percebemos que a maioria dos compradores está na faixa dos 15 aos 25 anos. Muitos compram seguidamente, apesar de orientarmos sobre como funciona a pílula do dia seguinte e dos problemas que podem ser ocasionados com o uso seguido'', lamenta a farmacêutica Silvia Pereira Vieira, que trabalha em uma farmácia da Zona Norte de Londrina.

Na Região Central, a história se repete. Um atendente de farmácia que pediu para não ser identificado revela que a cada final de semana vende de sete a dez caixas de contraceptivos de emergência. ''Quase todos são para adolescentes e os compradores, algumas vezes, são os mesmos. É alarmante o modo como a 'meninada' trata o sexo'', comenta. Em outras farmácias, os relatos são semelhantes. ''Muita gente não tem acesso à informação. Nós temos que vender, mas também temos que informar para que as pessoas não corram perigo'', sintetiza o farmacêutico Frank Gondo Araújo.

As pílulas do dia seguinte impedem a gravidez graças a um hormônio chamado levonorgestrel. O detalhe é que a concentração desse hormônio sintético nos contraceptivos de emergência é 12 vezes maior do que nos anticoncepcionais comuns. Os dados são da professora do curso de Farmácia da Unifil Maristela Lelis Dias. Para ela, não é exagero nenhum afirmar que as pílulas de emergência são verdadeiras bombas de hormônio.

''Trata-se de um medicamento que nasceu para atender à necessidade de evitar a gravidez em mulheres que sofrem abuso sexual. No protocolo de atendimento a vítimas de estupro, uma das medidas é ministrar a pílula à mulher violentada. Com o tempo, o contraceptivo de emergência começou a ser utilizado quando a camisinha estourava, quando a mulher esquecia de tomar o anticoncepcional... Ou seja, em casos de real emergência. Porém, atualmente, a pílula do dia seguinte está sendo utilizada de forma errada e banal'', reclama.

Utilizar a pílula do dia seguinte ''de forma errada'', como diz a professora, pode custar caro. Segundo o ginecologista José Luis de Oliveira Camargo, o uso repetitivo da pílula pós-coito leva a uma irregularidade hormonal. Isso pode interferir no ciclo menstrual e, em um segundo momento, o endométrio passa a funcionar de forma anormal.

Oliveira explica que o endométrio é a parte interna do útero. É ali que a pílula do dia seguinte atua. A alta concentração de hormônio do contraceptivo faz com que as paredes do endométrio descamem, gerando uma pseudo-menstruação e impedindo a gravidez.

Ainda de acordo com o médico, a pílula de emergência tem como primeiro objetivo impedir que os espermatozóides que chegam ao útero atravessem o endométrio e se encontrem com o óvulo feminino que está nas trompas, evitando a fecundação. É a ação hormonal sobre o endométrio que impede os espermatozóides de avançarem. ''Para que esse efeito aconteça, é preciso tomar a pílula nas primeiras 36 horas após a relação'', explica.

Quanto mais tempo a mulher demora para ingerir o medicamento maior é a chance de engravidar. Após as primeiras 36 horas, a pílula já não pode mais impedir a passagem dos espermatozóides pelo endométrio, uma vez que depois desse tempo o ''exército'' de gametas masculinos já foi adiante. Torna-se impossível impedir o encontro do espermatozóide com o óvulo. É quando ocorre a fecundação, formando uma célula que os cientistas chamam de ovo, ou zigoto.

Por isso, quando a mulher toma a pílula depois das 36 horas iniciais, a ação do contraceptivo de emergência é outra. A droga não vai deixar que o zigoto se fixe no útero - nidação, na linguagem médica -, que está descamado por conta da ação da pílula. É aí que se forma uma grande polêmica sobre a pílula de emergência ser abortiva ou não (leia nesta página).

''A pílula do dia seguinte é um excelente medicamento, mas é preciso saber usar. Deve ficar claro que o índice de sucesso é alto, mas tenho algumas pacientes que foram vítimas de falha da pílula de emergência'', ressalta Camargo.

A farmacêutica Maristela Lelis Dias completa que além de o método não ser 100% seguro, principalmente quando o medicamento é utilizado de forma tardia, os efeitos colaterais são importantes. ''As mulheres podem apresentar náuseas, vômito, irregularidade do ciclo menstrual e distúrbio vascular. Como farmacêutica, acho que este medicamento jamais poderia ser utilizado como auto-medicação'', destaca.

Nas farmácias, a FOLHA encontrou oito marcas diferentes de pílulas do dia seguinte. Os preços variam de R$ 9,90 a R$ 20,92. Não é exigida a apresentação de receita médica. Algumas marcas vendem cartelas com apenas uma pílula. Outras vendem cartelas com duas pílulas que devem ser tomadas com 12 horas de intervalo. O efeito é o mesmo.

Na rede de postos de saúde de Londrina, as pílulas de emergência também são distribuídas. No entanto, é necessário passar por avaliação médica antes de retirar o medicamento.


Folha de Londrina.

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