segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Tráfico usa crianças como ''mula'' em prisões

Pelo menos 35 menores foram utilizados para entrar com drogas e celulares nas penitenciárias de Mirandópolis

O tráfico usou pelo menos 35 crianças neste ano, acompanhadas das mães, para introduzir drogas e telefones celulares nas três penitenciárias de Mirandópolis - duas de regime fechado e uma de semi-aberto -, no oeste do Estado de São Paulo. Os números foram divulgados pelo Conselho Tutelar da cidade. O reflexo está nas cadeias públicas femininas da região, todas superlotadas por conta das prisões das mulheres. Segundo a Polícia Civil, 99% das presas foram flagradas tentando entrar com entorpecentes nos presídios.

O conselheiro tutelar Antonio Franquini Collaviti, de 45 anos, disse que 20 crianças foram usadas para transportar telefones celulares e 15 para levar drogas. Collaviti afirmou ainda que as mães usam desde recém-nascidos a menores de até 12 anos. As mães flagradas utilizando filhos para levar entorpecentes aos presídios foram autuadas por tráfico. As outras respondem ao processo em liberdade.

De acordo com Collaviti, a cada visita, as mães mudam a estratégia para tentar burlar os detectores de metais e aparelhos de raio X nos presídios. Algumas fazem falsos curativos nas crianças. Sob o esparadrapo colam o celular e acessórios do telefone, como chips e baterias, ou porções de droga.

Outras escondem o entorpecente ou o celular nas fraldas. Na semana passada, uma mãe colou os celulares no couro cabeludo dos filhos, de 5 e 6 anos, sob uma falsa peruca. Um dos meninos ainda usa chupeta. A mulher foi ouvida na Delegacia de Mirandópolis e liberada. As mães que submetem os filhos a situações de violência e humilhação podem ser condenadas de seis meses a dois anos de prisão.

O Ministério Público de Mirandópolis confirmou as informações do Conselho Tutelar da cidade. Um promotor informou que algumas mães vão além e introduzem o telefone celular nos órgãos genitais das crianças. O promotor acrescentou que muitas mulheres utilizam os filhos para ganhar algum dinheiro - tentando levar para as prisões drogas e celulares - ou para favorecer alguém dentro do presídio.

O promotor afirmou que o Ministério Público local teve de fazer intervenções e arrumar abrigo para crianças que tiveram a mãe presa por usar o filho para levar drogas a prisões. Em alguns casos, os abrigos de Mirandópolis se recusaram a receber as crianças porque os parentes delas eram de outras cidades, geralmente da capital.

O delegado-titular da Delegacia Central de Mirandópolis, Jenner Vieira de Farias, disse que 99% das mulheres presas na cidade e nos municípios vizinhos de Lavínia e Guaraçaí foram flagradas tentando entrar com drogas nas unidades prisionais.


Estadão.

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