Os adolescentes são fascinados pelas ferramentas da era digital. Eles não desgrudam do celular, vivem digitando mensagens de texto, passam horas escrevendo em blogs, navegando na web ou absortos nos videogames. Para o americano Mark Bauerlein, professor da Universidade Emory, em recente entrevista à revista Veja, as conseqüências dessa imersão digital não são boas.
Segundo Bauerlein, a nova geração de adolescentes americanos tem mais acesso à informação do que qualquer outra antes dela. Mas isso não se reflete num ganho cultural. O uso incessante dos dispositivos digitais criou um "casulo" em torno dos jovens, que só se relacionam entre si, 24 horas por dia, 7 dias por semana. "A falta de contato com os adultos impede os jovens de crescer."
"Os jovens de hoje não são menos inteligentes. Ao contrário, em diversos aspectos eles se saem melhor que as gerações anteriores. Eles apresentam maiores índices de ingresso na universidade e menores índices de criminalidade e de gravidez na adolescência. Mas, apesar de ter mais acesso à educação e à informação pela internet, além de mais dinheiro para gastar que qualquer outra geração, eles apresentam índices baixos de conhecimentos gerais e leitura. Os índices de leitura e de compreensão de texto vêm caindo desde o início dos anos 90. A conclusão é que, apesar do maior acesso às novas tecnologias, não se vê nenhum ganho em termos de apreensão de conhecimento. As coisas estão ficando piores", conclui Bauerlein.
Ler é preciso. Jovens e menos jovens precisam investir em leitura e reflexão. Só assim, com discernimento e liberdade, se capacitam para conduzir a aventura da própria vida. Compartilho com você, amigo leitor, algumas obras. Espero, quem sabe, que o estimulem no ano que começa.
What were they thinking? (Harvard Business School Press, 2007) é o título do livro de Jeffrey Pfeffer, professor de Stanford e um dos mais renomados gurus da Administração na atualidade. Esteve em junho no Brasil. No capítulo 3, comenta a grata impressão que lhe causou a experiência de ter sido professor visitante no Iese de Barcelona, a escola de negócios da Universidade de Navarra.
"Bem na época em que saía a versão para o cinema do Da Vinci Code", diz Pfeffer, "eu passava umas semanas no Iese Business School, escola de negócios espanhola que figura entre as líderes do mundo. O que eu encontrei lá não foram nem cilícios, nem cadáveres, nem monges albinos: foi great management. Uma escola de grande sucesso. Eu me perguntava o que é que estaria por trás desse sucesso. Descobri que havia pessoas brilhantes, bem preparadas, que poderiam ter condições econômicas mais rentáveis em outros lugares, mas havia algo que as atraía e as mantinha lá. Esse algo é caring culture (cultura de atenção, cuidados, serviço às pessoas). Como eu mesmo experimentei: minha esposa contraiu uma forte dor de ouvido, por ter tido de pegar um vôo resfriada. O diretor geral do Iese, Jordi Canals, não teve dúvida: providenciou primeiro uma consulta com um clínico geral, depois com um famoso especialista em ouvido; destacou uma funcionária de fala inglesa para acompanhar minha esposa, serviço de taxi, pagou tudo e não nos fez nenhuma pergunta. Isso era algo que não estava previsto no contrato de minha estadia no Iese e simplesmente conquistou nossa eterna gratidão. Para Canals era algo que fazia parte da missão de serviço aos membros da instituição, mesmo que fossem membros temporários, como era o nosso caso". O livro, carregado de experiências, suscita inúmeras reflexões.
A Igreja das Revoluções (Editora Quadrante, São Paulo, 2008). Este é o último título da História da Igreja de Cristo, a monumental obra de Daniel-Rops. O autor, membro da Academia Francesa de Letras, estava trabalhando no décimo primeiro, que trataria do Concílio Vaticano II, quando faleceu, em 1965. Emérico da Gama, um editor apaixonado e autêntico artesão das letras, caprichou na qualidade da edição. A multissecular história da Igreja, intimamente relacionada com a história da civilização, é um banho de cultura e um magnífico prazer intelectual.
Los contenidos de los medios de comunicación. Calidad, rentabilidad y competencia (Deusto, Barcelona, 2008). Trata-se de interessante livro do professor Alfonso Sánchez-Tabernero, especialista em empresa informativa e vice-reitor da Universidade de Navarra. A quem acredita que o sucesso das empresas de comunicação depende de sua capacidade de dar ao público o que ele quer (ou imagina que quer), Tabernero propõe uma reflexão: quem só vai atrás de supostas demandas do mercado pode conseguir sucesso imediato, mas corre o risco de perder prestígio a longo prazo. No setor da informação, a empresa que mais se fortalece é aquela que tem a coragem de mudar, mas, ao mesmo tempo, crê em alguma coisa, tem uma mensagem a transmitir. O verdadeiro crescimento sustentado rejeita o imediatismo do vale-tudo mercadológico. Trata-se de belo mapeamento do negócio informativo.
Deu no New York Times (Objetiva, 2008). É o fruto das experiências vividas pelo correspondente norte-americano Larry Rohter durante quase quatro décadas passadas no Brasil. Enviado do New York Times ao País entre 1999 e 2007, o jornalista já havia desempenhado a mesma função no final da década de 70 e no começo dos anos 80 na revista Newsweek e no jornal The Washington Post. Ao longo de todos esses anos, cruzou o Brasil entrevistando de presidentes a anônimos. Só pelo jornal nova-iorquino, publicou mais de quinhentas reportagens.
A todos, boa leitura e feliz 2009!
Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br), professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco - Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com). E-mail: difranco@iics.org.br
Estadão.
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