Violência, um atalho para consumir
Por Márcio de Souza
Ouvindo o bispo Robinson Cavalcanti, percebi que violência não é simplesmente agressão sem fundamento ou reflexos de uma cidade sem leis. Antes disso, é pautada na ânsia de obter poder aquisitivo para consumir o que a mídia e a sociedade de consumo propõem. Não vemos isso claramente porque estamos sufocados com a tarefa de condenar aquele que rouba ou de matar aqueles que traficam.
Essa escala, por mais simplória que seja, rege os pensamentos de ricos e pobres que se deparam com a impossibilidade de adquirir artigos que vão desde um tênis da moda até o mais novo lançamento imobiliário. Essa variação é construída pela falta de oportunidade, pela necessidade de comer ou então pelo simples fato de estar adquirindo o carro que ninguém tem ou morar em um triplex porque a cobertura em Ipanema não tem mais graça. Para os pobres uma questão de sobrevivência, para os ricos uma resposta que satisfaça o status quo.
Responda-me, por favor, qual a chance de um desses meninos que estão nas favelas sendo adotados por traficantes e servindo de mulas para o transporte de drogas? Qual é a chance que um jovem de periferia tem de viver uma vida razoável quando o simples fato de sair e chegar em casa ileso já é um milagre?
Porque os pobres roubam? Eles roubam porque não tem emprego, porque as portas da sociedade estão fechadas pra ele. Ele rouba porque não tem endereço e ninguém se importa, ele rouba porque as madrugadas tem sido frias e eles precisam sobreviver a isso também.
Porque os ricos roubam? Para calar a boca daquele camarada que é tão rico quanto ele e que comprou no jantar de ontem uma belíssima garrafa de champagne Moët & Chandon para mostrar aos demais que subiu na vida.
Erramos porque colocamos a culpa de todas as coisas ruins da sociedade nas favelas, mas os favelados são peixinhos pequenos, e enquanto eles matam e morrem para divulgar a mais nova droga do mercado, os tubarões estão em suas mansões gastando seu dinheiro sujo com orgias e comemorando o sucesso dos guris que mal completaram o jardim mas agora estão ajudando na árdua tarefa de manter a ordem no morro.
Ou a igreja entra na luta como comunidade de fé, expandindo a missão integral ou ela está fadada a mofar no triste universo em que vive.
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Postado por Márcio de Souza, no Púlpito Cristão
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