Todo sábado, quando os voluntários chegam ao centro da cidade de Hamamatsu para distribuir alimentos, roupas e remédios aos sem-teto japoneses e estrangeiros, o brasileiro Sidney Tomé, 43, já está na fila.
Desde que foi parar na rua, há dois meses, o brasileiro já se habituou a buscar o apoio e a sopa quentinha distribuída pelo grupo.
No último final de semana, enquanto aguardava sua vez de receber o prato de comida, concordou em contar sua história. “Quero que todos saibam que a vida no Japão não é fácil”, justificou.
Ele está no país desde 2005, ano também em que sofreu um acidente de trânsito. “Fiquei bastante tempo parado e, desde então, não consegui me fixar em um emprego”, conta o brasileiro.
Tomé vive somente de bicos, que se tornaram escassos com a chegada da crise. “Para piorar, perdi meus documentos e meus pertences estão presos em um guarda-volumes, pois não tenho dinheiro para retirá-los de lá”, conta.
Ainda com dívidas da passagem de avião que financiou para ir ao arquipélago, ele tem esperanças de arranjar um emprego e quitar essa pendência. “Não quero voltar ao Brasil e gostaria até de comprar uma casa no Japão”, fala.
M., de 40 anos, pensa diferente. Ele não vê a hora de receber o dinheiro do aviso prévio para comprar uma passagem só de ida ao Brasil e nunca mais voltar para o Japão.
Ele está na rua há um mês, logo após ter sido demitido da fábrica onde trabalhava. Nem cumpriu o aviso prévio, um erro da empresa. O Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos interveio e, agora, o brasileiro aguarda a decisão da justiça.
Enquanto espera, ele ainda tenta arranjar uma vaga. O pouco do que restou dos pertences ele deixa em um guarda-volumes, pelo qual tem de desembolsar 500 ienes diariamente (cerca de R$ 12). Para tomar banho ele gasta mais 300 ienes (cerca de R$ 7).
Para arcar com esse custo diário, ele passa a manhã toda coletando latinhas de alumínio. São dez quilos que ele tem de juntar para poder “sobreviver”.
Catador de lixo
É do lixo também que vive outro brasileiro na cidade de Hamamatsu. A reportagem da BBC tentou localizá-lo durante o final de semana, mas só encontrou o lugar que ele usa como abrigo, embaixo de uma ponte, que chama a atenção pela quantidade de bugigangas acumuladas.
São latas, sucatas de todo tipo, bicicletas e até uma geladeira em bom estado. Com caixas, papelão e cobertores, construiu um pequeno espaço, onde dorme.
Mas os japoneses não estão nada contentes com o novo vizinho. Já pediram para a polícia e até para a prefeitura local para que ele seja retirado do local.
Os motivos divergem: alguns dizem que é perigoso para o forasteiro morar embaixo da ponte, enquanto outros estão preocupados é com a própria segurança. “Não sabemos nada da vida dele”, sugere um morador local.
Solidão
Outro que foi para a rua é O., de 32 anos. O jovem, de Londrina (PR), está no Japão há quase dez anos e, há duas semanas, dorme embaixo de uma marquise no centro de Hamamatsu.
Diz sentir vergonha da situação, e já nem faz mais planos. “Vim ao Japão com a intenção de montar um negócio próprio no Brasil. Até consegui juntar dinheiro, mas gastei tudo em bares e jogos”, conta ele, que perdeu o contato com a família no Brasil. “Nunca fomos unidos e, se eu voltar ao Brasil, não tenho onde ficar.”
Para O., o grande problema que a maioria enfrenta no Japão é a solidão. “A gente chega aqui cheio de esperanças, mas a falta de companhia e de amizade sincera vai deixando a gente pirado”, diz.
Sérgio Mitsuo Iwasaki, 38 anos, também perdeu contato com a família. Desde março deste ano ele não fala com os pais e irmãos. Preocupado, o irmão mais velho Gilberto Kazuo Iwasaki, 43, mudou-se para Hamamatsu a fim de encontrá-lo.
Segundo apurou até agora, Sérgio teria sido despejado do alojamento em setembro e, desde então, estaria morando na rua.
Por isso, Gilberto, que também perdeu o emprego, saiu da província de Nagano e passou a empreender uma verdadeira busca. Distribuiu cartazes e, com a ajuda de amigos e de uma tia, percorre a cidade na esperança de achar o irmão.
“Depois que localizá-lo, vou comprar nossas passagens e voltar definitivamente ao Brasil”, afirma.
BBC Brasil.
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