sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Artigo: Nicarágua - Carta às Mulheres Trabalhadoras Sexuais

Adital -
Tradução: ADITAL

Carta às participantes no Encontro Nacional de Mulheres Trabalhadoras Sexuais

Queridas Amigas Trabalhadoras Sexuais:

Não imaginam com que expectativa há tempos eu sonhava com esse encontro. Que bom estarmos juntos e por cultivarmos o carinho nesses dias em que vamos partilhar como companheiras/os de um mesmo caminho!

O primeiro que quero dizer-lhes é que as quero muito e que desde minha infância minha vida esteve muito ligada a vocês, sinto-as sempre próximas. Já como sacerdote, vocês têm estado bem presentes em minha vida. Sinto alegria quando nos cumprimentamos na rua, mesmo que seja um simples sorriso, ou um cumprimento à distância. Me alegro mais ainda quando podemos conversar um pouquinho e partilhar nossas penas e alegrias, frustrações e sonhos. E também quando vejo como lutam na vida e também quando lutamos juntos por seus direitos e pelo bem das meninas e dos meninos.

Estou pensando no Encontro que realizaremos nesses dias. Há muito tempo, quando eu lia que em outros países mulheres como vocês se reuniam e se organizavam, pensava e me perguntava: ‘quando será que teremos um encontro assim em Nicarágua?’ E, hoje, este sonho se torna realidade; quero agradecer de maneira especial à equipe de Mary Barreda, organização nossa irmã por ter promovido esse Encontro e nos tenha convidado a participar.

Partilhar: quantas penas e quantas alegrias vão partilhar nesses dias. Dizem que as penas partilhadas se tornam menores e as alegrias compartilhadas crescem e se tornam maiores. Quantas vezes vocês tiveram grandes problemas e não tiveram com quem partilhar! Quantas vezes quiseram partilhar suas dores e viram as portas fechadas, foram julgadas ou discriminadas? Nesses dias, com liberdade, respeito e compreensão, terão a oportunidade de partilhar umas com as outras.

É bom compartilhar as penas e as alegrias; porém, também é muito bom dar um passo adiante e compartilhar seus sonhos, suas ilusões e suas lutas.

Quantos sonhos trazem hoje em seu coração! Sem dúvida, um sonho muito importante e que está no centro de seu coração: o bem estar de seus filhos e filhas. Nos alegra e anima conhecer como em meio á dureza dessa vida cada uma de vocês luta por seus pequeninos, por sua saúde, sua educação, sua comida diária, seus brinquedinhos no aniversário ou no Natal... Desejo que partilhem com amor e entusiasmo como lutam por seus pequenos e como, por eles, estão dispostas a tudo.

Vamos avançar. Há tempos, uma de vocês, em meio a grandes problemas, me disse: ‘eu sei que vamos superar isso’. Admiro muito a enorme força com que lutam a cada dia para ir em frente no econômico, no bem estar de sua família, em ser respeitadas e não maltratadas. Sei que sua vida é especialmente difícil, porém creio que com essa vontade firme e, juntas, vão em frente!

Tomara que aprendam umas com as outras e que nos aprendamos com vocês... Creio que ao partilhar, algo muito importante é recolher das experiências das demais o que há de positivo, o melhor que têm feito, como têm conseguido superar as dificuldades. E também temos que aprender com os erros próprios e dos outros, para avançar.

Organizar-se e lutar por seus direitos. Penso que, devido à vida que vocês levam, são muito discriminadas ou deixadas de lado; seus direitos à saúde, educação, trabalho, não-violência não são respeitados. Recordo que em um encontro com as autoridades da polícia, um bom número de vocês dizia com firmeza: ‘não nos tratem como lixo; porque sempre dão razão ao cliente; lembrem-se que suas esposas ou filhas são mulheres como nós’. E outra dizia claramente: ‘trabalhamos nisso por necessidade, e não têm direito a maltratar-nos, a nos chantagear, pois, antes de tudo, somos mulheres com plenos direitos. Somos mulheres, somos seres humanos. Não somos animais, nem somos coisas. Somos mulheres e nos alegramos por ser mulheres’.

Somos mulheres! Esse grito me causou impacto e por isso, no poema que lhes entregaremos, escrevi: "Como a chamas? Prostituta ou Mulher? As chamam prostitutas os que as prostituem; as chamam pecadoras os limpos fariseus hipócritas. As chama Mulher, Jesus; ele que as ama, ele que não as condena; ele que as convida a reconstitui-se com plena auto-estima.As chama Mulher, Jesus".

Eu desejo que desse encontro brote um acordo, um compromisso que anime a organização de vocês, para que defendam seus direitos não somente como pessoas, isoladamente, mas como grupo, como um corpo, como um todo. Em outros países conseguiram fazer isso; por que não poderemos fazer também aqui, na Nicarágua?

Para terminar essa cartinha, quero dizer-lhes que desejo que sintam profundamente como Jesus quer vocês; como em sua vida nessa terra, Jesus lutou por seus direitos e rompeu a discriminação das mulheres. Jesus ajudou a que a mulher encurvada pelo peso da vida se endireitasse. Jesus falou com aquela mulher Samaritana. Jesus não a discriminou, ele falou com ela; pediu-lhe água no meio do deserto da vida e lhe ofereceu a Água Viva para toda sua vida. E Jesus continua lhes oferecendo a Água Viva. Esse encontro com todos os seus sonhos, para compartilhar, para apoiar-se mutuamente e para ir em frente na vida é parte dessa torrente de Água Viva que Deus quer para vocês.

Me despeço com muito amor e carinho de minha parte e de parte de cada pessoa da equipe que trabalhamos e lutamos junto com vocês.

Um amigo sincero, sacerdote amigo de vocês.

Arnaldo

P.D.: Agradeço a todas por tudo o que aprendi e aprendo com vocês no amor a seus filos, em sua luta pela vida, na vontade firme de ir em frente.


Arnaldo Zenteno S.J., Del Equipo de Servicios CEB-CNP.

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