A tragédia social das drogas, um dos flagelos da comunidade humana, tem facetas insuspeitadas e assustadoras. A reportagem que o Diário Gaúcho apurou sobre as 117 mulheres usuárias de crack que deram à luz em hospitais de Porto Alegre neste ano é uma confirmação eloqüente dos malefícios dessa droga para mães, filhos e famílias. Trabalhos médicos publicados em revistas especializadas já identificavam nos anos 80 que o crack e seus efeitos configuravam riscos evidentes para parturientes e bebês. Estes, em especial, expostos a gestações complicadas e a nove meses de agressões químicas, recebem em seu corpo, no útero, a carga perniciosa do crack, a energia que a droga injeta no sangue e a aceleração cardíaca de uma mãe que se droga às vezes minutos antes do parto.
Como segunda série de efeitos deletérios, os bebês estão sujeitos a complicações extras no parto, com freqüência nascem com baixo peso, têm mais problemas que a maioria das crianças e, pior que tudo, já nascem quase órfãs, pois acabam abandonadas pelas mães que não têm condições ou recursos para protegê-las e sustentá-las. A reportagem conclui que os filhos do crack raramente ficam com os pais ou a família. Eles acabam entregues aos conselhos tutelares e aos abrigos de crianças, ampliando o problema da exclusão social, do abandono e da falta de vínculos familiares.
As conseqüências sociais das drogas, em especial do crack com sua capacidade de viciar e de matar, desafiam autoridades e especialistas. Não bastasse a marginalização dos usuários, que estraçalham suas vidas no vício, os filhos engrossam o exército das crianças sem saúde e sem futuro. A questão é dolorosa demais para ser ignorada.
Editorial. Zero Hora.
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