segunda-feira, 14 de julho de 2008

Para manter a memória em dia




Perda de capacidade de lembrança é normal com a idade, mas especialistas afirmam que há maneiras de estimular o bom funcionamento da memorização.

Não saber onde colocou as chaves do carro, esquecer compromissos, não conseguir lembrar o nome das pessoas. Todas essas são situações que incomodam e que podem trazer problemas quando se tornam freqüentes. Estresse, ansiedade, problemas no sono e até mesmo depressão podem prejudicar o bom funcionamento da memória. Embora a perda da capacidade de memorização seja algo natural da idade, é preciso saber identificar o que está por trás dos esquecimentos e lembrar que a mente segue a lei do uso e desuso; ou seja, quanto mais for estimulada, melhor será seu funcionamento.

Até hoje, a memória ainda é algo que não foi totalmente desvendado pelos médicos e cientistas. Sabe-se que ela está envolvida com uma série de outras funções cerebrais e que tem conexões com diversos sistemas do corpo. “A memória não funciona sozinha. Ela tem ligações com uma série de outras funções, como a linguagem, a percepção visual, a audição e o raciocínio”, explica a neuropsicóloga especialista em memória Maria Joana Mäder. Uma das relações mais intensas, entretanto, é da memória com a concentração e a atenção. “Se você não se concentra, não foca a atenção no que está fazendo, não consegue gravar”, afirma. Assim como a concentração, as emoções têm um impacto muito grande na memória. Por isso lembramos com facilidade de fatos que nos marcaram de alguma forma, com os quais tivemos alguma relação afetiva e conseguimos deletar informações que não nos são úteis. “Temos a chamada memória episódica, que armazena novas informações e as guarda para longo prazo, e a memória operacional, que funciona como um arquivo temporário”, afirma a especialista.

Com o tempo, a capacidade de memorização vai ficando prejudicada. “É algo que se deteriora com a idade. O que acontece é que o volume do cérebro diminui naturalmente. Com a perda de neurônios nas áreas cognitivas, a capacidade de fazer conexões vai diminuindo”, diz Luiz Carlos Benthien, neurologista, geriatra e membro do departamento científico de cognição e envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia. Por isso é normal que os idosos tenham a chamada memória recente mais afetada, mas em compensação consigam se lembrar muito bem de fatos do passado.

Segundo Maria Joana, a melhor fase para armazenar e absorver informações é aos 20 anos, quando a mente está no auge da sua capacidade. Depois, aos 40 anos, essa capacidade já não é a mesma; no entanto, a habilidade de adaptação, raciocínio e percepção já estão mais desenvolvidas.

Mudanças no padrão do sono, como insônia e outros distúrbios que causam um sono fragmentado, também influenciam na capacidade de memorização. “O sono tem cinco fases. É na mais avançada delas, no sono REM, que a memória se consolida. Além disso, quem dorme mal tem mais problema de falta de atenção. E, sem atenção, a memória não funciona”, ressalta a neurologista especialista em sono, Elyéia Hannuch. Situações de estresse, ansiedade e depressão também têm um impacto negativo na capacidade de memorização, pois alteram funções fisiológicas e afetam a liberação de determinados neurotransmissores.

O que fazer?

Estimular a mente é fundamental para preservar a memória. Segundo os especialistas, qualquer atividade cognitiva não-passiva (ou seja, ver televisão não vale) ajuda a desenvolver a capacidade de memorização. “Fazer trabalhos manuais, jogar de baralho, ler, fazer atividades no computador, participar de cursos ou até conversar e discutir sobre um tema são coisas que ajudam. Um dos melhores exercícios é ler uma notícia no jornal e tentar recontá-la”, afirma a neuropsicóloga. Embora seja a partir dos 50 anos que a maioria das pessoas começa a se queixar de perda da memória, sabe-se que a estimulação deve ser feita desde a infância. “Todo estímulo ajuda na criação de novas conexões e, aumentando essa rede, conseqüentemente os riscos de problemas no futuro são diminuídos”, diz.

Repetição, organização e associações são mecanismos compensatórios que ajudam a lembrar tarefas e compromissos. Além disso, todos aqueles mandamentos para uma vida saudável, como fazer atividades físicas, cuidar da alimentação e controlar fatores de risco para problemas cardiovasculares valem também na preservação da memória. “A atividade física ajuda porque libera endorfinas, substâncias que atuam limpando o ‘lixo mental’”, afirma Benthien. Segundo ele, atividades que mexam com o emocional, que socializem, como a música, a prática de ioga, ou atividades de relaxamento e meditação também são benéficas.

Já no caso de pessoas que sofrem de demência, embora não seja possível recuperar as conexões perdidas, é possível manter a capacidade ainda existente. “Mas é preciso incentivar essas pessoas na prática de atividades cognitivas. Não adianta falar para alguém que tenha mal de Alzheimer para que faça determinada coisa. Ela vai esquecer. Mas se você acompanhar, der na mão dela um tricô, por exemplo, ela vai fazer, e isso é bom para a mente”, diz Maria Joana.


Dicas:

Ajudar a memória a funcionar bem pode ser simples. Veja o que fazer:

- Faça atividades que estimulem a concentração e o raciocínio (ler, fazer trabalhos manuais, jogar baralho, navegar na internet, jogar no computador, conversar).

- Durma bem. O sono é fundamental para a consolidação da memória.

- Faça atividades físicas. As endorfinas ajudam a “limpar” as informações desnecessárias do cérebro.

- Seja organizado, guarde as coisas nos lugares corretos e controle tarefas e compromissos. Anote e use uma agenda se isso facilitar.

- Faça associações mentais que ajudem a lembrar as coisas.

- Repita idéias. A repetição fixa as informações.


Gazeta do Povo.

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