terça-feira, 8 de julho de 2008

Entre o divã e a poltrona

Apesar de terem nomes parecidos, o psiquiatra, o psicólogo e o psicanalista apresentam formação e modos de atuação distintos.

O prefixo “psi”, que já faz parte da linguagem corrente dos brasileiros, ainda provoca confusão quando se refere aos profissionais indicados pelos termos psiquiatra, psicólogo e psicanalista. Embora os três se dediquem ao estudo do comportamento humano e dos transtornos mentais que atingem os indivíduos, eles apresentam formações acadêmicas e métodos de intervenção diferentes.

Roberto Ratzke, membro da diretoria da Sociedade Paranaense de Psiquiatria, aponta as similaridades entre o psiquiatra, que é um médico, e o psicólogo, graduado em Psicologia. Ambos ajudam o paciente a lidar com dificuldades emocionais e a adotar novos comportamentos a partir da mediação verbal, ou seja, de sessões confidenciais em que o indivíduo fala sobre os seus sentimentos. Por outro lado, Ratzke diz que o psiquiatra também investiga as causas orgânicas das doenças mentais. “Há casos que exigem exames físicos. Uma pessoa com depressão, por exemplo, pode estar com hipotireoidismo”, diz. O médico também é o único que pode prescrever medicamentos. “Existem psiquiatras que se especializam em psicoterapia; outros, em medicação. Mas de forma geral esse médico faz uso das duas formas de intervenção”, afirma Ratzke.

O psicanalista, por sua vez, é o profissional que passou por uma formação em Psicanálise, método de tratamento criado pelo médico austríaco Sigmund Freud que tem como principal objetivo identificar as motivações inconscientes que moldam o comportamento das pessoas. “A Psicanálise é uma área de assistência, cuja formação é oferecida para médicos, psiquiatras em sua maioria, e psicólogos, mas que eventualmente pode ser ofertada para outros profissionais da área de Ciências Humanas”, explica o psiquiatra e psicanalista Sérgio Seishim Kaio, do Núcleo Psicanalítico de Curitiba. A formação em Psicanálise dura cinco anos e é oferecida por sociedades e associações que mantêm institutos de ensino e pesquisa. “A Associação Brasileira de Psicanálise, que congrega as sociedades formadoras de psicanalistas filiadas à Associação Psicanalítica Internacional (IPA), fundada por Freud e com sede em Londres, oferece a formação em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre”, diz.

A Associação Brasileira de Psicanálise exige que os alunos sejam psiquiatras ou psicólogos, mas em alguns casos a formação superior em outros cursos também é aceita. O centro de formação também é rigoroso na seleção dos estudantes. Segundo o presidente do Núcleo Psicanalítico de Curitiba, Andreas Zschoeper Linhares, apenas profissionais que se formaram há pelo menos cinco anos podem iniciar o curso. “O aspirante a psicanalista também precisa fazer análise”, afirma.

Apesar da diferença entre o psiquiatra, o psicólogo e o psicanalista, a parceria entre eles não é incomum, especialmente entre psicólogos e psiquiatras. “No caso de algumas doenças graves, como esquizofrenia e transtorno bipolar, o trabalho em conjunto é fundamental”, relata Ratzke. Ainda com relação à diferença entre as profissões, o médico ressalta uma curiosidade: equivocadamente associado a todas as psicoterapias (técnicas psicológicas que restabelecem o equilíbrio emocional dos indivíduos), o divã é usado apenas na psicanálise. Deitado numa espécie de sofá sem encosto, e de costas para o psicanalista, o paciente fica relaxado e propenso a contar o que lhe vem à mente. “Quando estamos frente a frente com alguém, nos moldamos em função da reação da outra pessoa. Por isso, o divã facilita a comunicação entre o paciente e o analista”, explica Linhares.


Gazeta do Povo.

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