sexta-feira, 27 de junho de 2008

A violência no trânsito

O número de pessoas que morrem a cada ano em acidentes de trânsito nas ruas da cidade de São Paulo aumentou 9,63% entre 2001 e 2007 - de 1.681 para 1.843 vítimas. É a segunda maior causa de mortalidade, entre todas as de origem externa registradas no banco de dados da Secretaria Municipal da Saúde (em primeiro lugar, estão os homicídios).

Para o secretário municipal dos Transportes e atual presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Alexandre de Moraes, o crescimento de 33% da frota de veículos é a principal causa de aumento do total de mortes no trânsito.

No período de seis anos, a malha viária paulistana manteve-se praticamente a mesma, sem qualquer correção de antigas falhas de projetos que atrapalham a circulação e tornam o trânsito cada vez mais perigoso - curvas mal dimensionadas, acessos que provocam gargalos, sinalização ruim, entre outros. Os 17 mil quilômetros de ruas da capital que eram ocupados, em 2001, por 4 milhões de veículos, hoje recebem, diariamente, 5,3 milhões de automóveis, caminhões, ônibus e motos.

Porém, contrariando o secretário de Transportes, especialistas em trânsito explicam que essa maciça concentração de veículos nas ruas e avenidas provoca apenas a redução da velocidade média do tráfego, o aumento dos congestionamentos e, conseqüentemente, diminue as possibilidades de acidentes.

Em entrevista ao Estado, o médico Mauro Taniguchi, coordenador do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade de São Paulo (Pro-AIM), da Secretaria da Saúde, afirma que o aumento dos acidentes se deve ao relaxamento no cumprimento das normas de segurança estabelecidas pelo Código de Trânsito Brasileiro, em vigor desde 1997. Na época, a capital registrava mais de 1,9 mil mortes ao ano provocadas por acidentes de trânsito. Um ano depois do início da fiscalização para o cumprimento do código, o total de mortes em acidentes de trânsito caiu quase 40%. Porém, no ano passado, as estatísticas mostraram um grave retrocesso que fez São Paulo viver novamente o índice de 12 anos atrás.

Fosse o Código de Trânsito Brasileiro regulamentado e cumprido como foi prometido, não haveria bêbados ao volante, o número de atropelamentos seria menor, os motociclistas estariam sob rigorosa fiscalização, os carros sem condições de circular estariam fora das ruas, a civilidade seria maior e uma série de outros fatores de aumento da violência nas vias estariam excluídos.

Nos últimos anos, porém, a legislação de trânsito serviu para que as autoridades, em primeiro lugar, tivessem amparo para instalar equipamentos eletrônicos de controle de velocidade nas ruas e avenidas. Radares e lombadas eletrônicas fizeram a receita das multas se transformar numa das três maiores, principalmente nas grandes cidades, mas quase nada desses recursos foi investido na melhoria do trânsito.

Em São Paulo, onde circulam diariamente 600 mil motociclistas, pelo menos 1 morre a cada 24 horas em acidente. Outros 25 são internados com ferimentos graves em hospitais e prontos-socorros. Mais da metade dos mortos em colisões tem entre 20 e 29 anos. A frota de motos representa 9% da frota paulistana, mas responde por 56% do total de acidentes com vítimas.

Algumas iniciativas foram tomadas na administração Serra/Kassab para baixar as ocorrências envolvendo motocicletas - como faixa exclusiva, proibição de circulação nas pistas expressas das Marginais do Pinheiros e do Tietê, e regulamentação da atividade de motofrete. A quase totalidade das medidas, no entanto, não passou da fase de anúncio e experimentação.

Falta vontade política de enfrentar o descontentamento da categoria e de seus empregadores. O temor das perdas de votos que isso pode trazer também tornam tímidas as poucas medidas que seriam necessárias para a melhoria da segurança no trânsito, como um programa efetivo e amplo de inspeção mecânica, capaz de livrar a cidade dos veículos sem condições de uso.


Estadão.

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