segunda-feira, 2 de junho de 2008

Inteligência e armas não-letais na segurança do Rio

Uma mata, o outro arde horrores. Mas entre bala perdida e gás lacrimogêneo, a diferença pode ser uma vida, ou mais de uma. É essa a lógica dos investimentos em armas não-letais do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) no Rio de Janeiro. Granadas de gás, de luz e som, balas de borracha e spray de pimenta serão usados em operações policiais em comunidades dominadas pelo tráfico. O objetivo das ações será garantir a chegada dos projetos sociais do Pronasci.

No dia 15 de maio, o Ministério da Justiça (MJ) anunciou o investimento de R$ 55,32 milhões do governo federal “para equipar as polícias Civil e Militar do Rio contra o crime organizado”. Segundo o MJ, a maior parte dos recursos será aplicada em material de proteção - coletes, capacetes e escudos - e em equipamentos de tecnologia que ajudem no planejamento de operações.

Segundo a subsecretária de Gestão Estratégica da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Suzy Avellar, R$ 23 milhões serão investidos pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) na aquisição de equipamentos e veículos para serem doados ao Rio e R$ 32 milhões repassados ao governo do estado, que irá aplicá-los através de convênios, a serem assinados nos próximos dias. A verba será liberada na medida em que as licitações para a compra dos equipamentos forem concluídas.

Suzy Avellar destaca a compra de armas não-letais. “A idéia é que a polícia não chegue atirando. A primeira coisa que a polícia tem que fazer é tentar acabar com o confronto com munição não letal”, disse.

Em resposta ao Comunidade Segura, a assessoria de comunicação da Seseg explicou que o armamento não-letal é muito útil para desobstruir vias e dispersar tumultos para diminuir riscos para a população em operações policiais.

“As granadas de luz e som servem para dificultar a identificação dos policiais pelos bandidos. As lacrimogêneas ajudam a expulsar traficantes de casamatas e as fumígenas agem na neutralização de fogueteiros. Quando a polícia entra em alguns locais, é recebida com disparos de armas altamente letais. Os policiais também precisam ter armas potentes para a sua defesa, mas, no meio disso tudo, estão milhares de pessoas inocentes”, diz a Seseg. O treinamento para o uso do novo armamento está incluído no contrato de compra.

De acordo com a subsecretária de Gestão Estratégica, o investimento nessas armas não é grande, figurando na rubrica do material de consumo e serviço, que receberá ao todo R$ 1,3 milhão.

Além do armamento não-letal, Suzy Avellar destaca a construção de 20 postos de polícia comunitária no Complexo do Alemão, “para mostrar que o policial está lá para defender a população e atendê-la”.

Outro avanço citado por ela são as duas salas de gestão de crises: uma no prédio da Secretaria de Segurança e outra no Quartel General da PM. Elas terão equipamentos de informática de alto poder de processamento, monitoramento por câmeras e acesso aos sistemas de todas as polícias, para o planejamento de ações integradas de diversas forças. A previsão é de que estejam funcionando em 90 dias.



Tecnologia para a tomada de decisões

De acordo com o coronel Almeida Neto, coordenador do Centro de Comando e Controle da Seseg, a sala de gestão de crise será parte do futuro Centro Integrado de Defesa Social, que reunirá uma equipe multidisciplinar de representantes das polícias Militar e Civil, do Corpo de Bombeiros, da Guarda Municipal e da Saúde Pública, entre outros órgãos.

“É preciso estar junto para defender a sociedade. A questão é muito mais abrangente que segurança pública. Os problemas não são só de polícia. Precisamos tratá-los de forma mais pontual”, diz o coronel.

Segundo Neto, a equipe irá cuidar do dia-a-dia e de situações que demandem uma atenção focada. “A sala de gestão de crises entrará em ação quando os recursos ortodoxos forem esgotados e for necessário acionar pessoas com poder de decisão imediato para tratar a questão de forma operacional e política. Elas terão recursos tecnológicos de imagens, dados e voz para ajudá-las na capacidade de decisão”, afirma.

O coronel dá como exemplo a visão do alto de um terreno enviada por uma aeronave, que pode ser reenviada a um carro-comando próximo ao local e com isso permitir uma ação mais equilibrada e segura para a polícia e a população local.

“No calor dos acontecimentos, a pessoa no local – o chamado ‘teatro de operações’ - acaba se envolvendo. De longe, no ambiente apropriado, com informações precisas e técnicos capacitados, é mais fácil adotar medidas racionais de cunho operacional”, diz.

Para o mestre de tiro e professor da Academia da Polícia Militar do Rio de Janeiro Paulo Storani, o investimento nos equipamentos apontados ajudará as instituições policiais em suas atividades, mas é preciso não esquecer da necessidade constante de treinamento, que, no caso, deve dar ênfase à inteligência e utilização de armamento não-letal.

“Investir em armamento não-letal é fundamental quando buscamos desenvolver uma polícia cidadã e a redução das mortes. Contudo, o treinamento dos policiais deve ser um objetivo constante em qualquer projeto, pois motiva os policiais, reduz a violência na ação e diminui a letalidade”, observa o Capitão da Reserva da PMERJ, hoje secretário de Segurança Pública de São Gonçalo, município também contemplado pelo Pronasci para o desenvolvimento de projetos sociais e de prevenção da violência.


Comunidade Segura.

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