A série de capítulos penosos protagonizada pelo ator global Fábio Assunção traz à baila mais uma vez a discussão da temática que mais tem afligido nossa sociedade nos últimos anos: a dependência química. Uma síndrome caracterizada pelo uso de substâncias psicoativas nas quais se incluem o álcool, a maconha, a cocaína e o crack, em troca das sensações de tranqüilidade e de prazer.
Avaliando a intermitente ampliação deste panorama, pode-se perceber quão complexa é a matéria e constatar que a dependência química já faz parte de nossas estatísticas mais nefastas, quando grifam o expressivo número de acidentes de trânsito e crimes que têm origem no uso das drogas.
Levar à sociedade um maior número de informações significará permitir compreender que a dependência química é uma doença e não uma opção de vida, e que essa doença gera conseqüências danosas ao indivíduo e às pessoas que dele estão próximas. Faz-se relevante compreender que a doença não se inicia com a dependência química, pois, de antemão, o usuário já se encontra doente existencialmente, indo procurar nas drogas a cura de suas feridas mais íntimas, fato reconhecido pela Organização Mundial de Saúde.
Por outro lado, a falta de transmissão de notícias precisas acaba gerando conceitos errados, tanto sobre o usuário da droga quanto sobre o mito que ela tem de solucionar problemas. Nesse sentido, saliente-se que os familiares do usuário são de fundamental importância para o aprendizado de quais atitudes se deve tomar perante tal problema, mesmo porque muitos dos dependentes químicos iniciam seu relacionamento com drogas exatamente no lugar onde se suporia que estariam mais seguros: dentro de seus próprios lares.
Na doença da dependência química não há culpados, somente responsáveis. A culpa termina nela própria e a responsabilidade tem origem nela própria. A responsabilidade começa e remete ao compromisso – no planejamento e no trabalho de uma vida nova – para que seja então alcançada a felicidade. O objetivo não deverá ser somente o de parar com a droga, e sim o de alcançar o sentimento de bem-estar. A responsabilidade da família e do dependente deverá estar vinculada ao tratamento da doença, que significa a vontade de parar de sofrer, o apoio qualificado, a aceitação da doença e a aplicação de substituições, pois a falta de mudanças significará, de forma irreversível, a volta ao uso das substâncias excitantes.
O grande desafio da recuperação é substituir a rotina centrada na droga por novos hábitos, buscando evitar a retomada de anteriores comportamentos destrutivos. Na implementação dessa mudança, o ambiente social exerce uma poderosa influência na recuperação do dependente químico. A influência mostra-se no restabelecimento do convívio familiar, nos encontros com colegas recuperados e no apoio de profissionais especializados. Some-se a estes procedimentos que a certeza da presença de um Poder Superior – que auxilia, reconforta e preenche o vazio existencial – fará surgir valores dotados de amor, os quais garantirão, de forma inequívoca, um novo sentido de vida.
Júlio Cruz, Presidente-voluntário da Pacto/Poa – Pastoral de Auxílio Comunitário ao Toxicômano.
Zero Hora.
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