A humanidade produziu uma bolha de crédito ambiental que já é 30% maior que a capacidade do planeta de fornecer bens e serviços à civilização de forma sustentável. Essa alavancagem artificial é denunciada hoje pelo Living Planet Report, um relatório bianual que mede a chamada "pegada ecológica" da humanidade.
Na natureza, assim como nas finanças, esse tipo de empréstimo sem fundos termina em colapso. Sinais dele são as crises do clima e da biodiversidade, afirmam a ONG WWF e a Sociedade Zoológica de Londres, autoras do relatório.
Segundo o documento, hoje cada ser humano precisa para viver de 2,7 hectares de área biologicamente produtiva da Terra. Isso inclui a área agrícola e de florestas necessária para produzir comida, fibras e madeira; os oceanos e rios que fornecem pescado; e a porção de biosfera que absorve os resíduos como o gás carbônico e fornece espaço para cidades e infra-estrutura. Esse total é a pegada ecológica de cada pessoa. A pegada dos brasileiros já é de 2,4 hectares.
Acontece que a área biologicamente produtiva da Terra é de apenas 2,1 hectares por pessoa. A diferença entra na conta do débito ambiental.
Segundo o relatório, a humanidade passou a devedora da biosfera em algum momento no fim dos anos 1980. Nos últimos 45 anos, a pegada ecológica mais que dobrou, devido ao crescimento da população e do padrão de consumo.
"Em 1961 quase todos os países do mundo tinham capacidade mais do que suficiente de atender a própria demanda; em 2005 a situação mudou radicalmente", diz o relatório. Hoje, mais de três quartos da população mundial vivem em países com débito ambiental.
As maiores pegadas ecológicas pertencem, claro, aos EUA e à China (que, somados, usam 21% da biocapacidade do planeta), embora a pegada de um chinês médio seja muito menor que a de um americano médio.
Apesar de serem credores ambientais, países emergentes como Brasil, Indonésia e África do Sul estão contraindo empréstimos "subprime" perigosos: outro índice avaliado, que mede o estado de saúde dos ecossistemas, aponta que as regiões tropicais lideram a perda de fauna. Enquanto nas zonas temperadas houve 6% de aumento em populações de vertebrados de 1970 a 2005, nos trópicos houve declínio de 51%.
Folha de São Paulo.
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