Após passar um ano e meio preso injustamente no lugar do irmão, Julio Eglesias Soares, de 31 anos, conseguiu provar que tudo não passou de um erro da Justiça. Ele deixou o Presídio Central de Cuiabá no domingo (28).
O engano começou quando o verdadeiro criminoso foi preso por assalto a banco em Barra do Garças (MT), em 2003, e se identificou com o nome do irmão: Julio Eglesias, conforme explicou ao G1 a coordenadora do núcleo de flagrantes da Defensoria Pública de Mato Grosso, Erinan Goulart Ferreira Prado.
“Não existe no Brasil um sistema de identificação para apurar a identidade. O detido diz o nome e, com base nos dados, é feita a confrontação de informações. Nesse caso, o delegado não pediu nenhum documento para que o preso provasse que se chamava Julio Eglesias nem foi feita a confrontação”, diz Erinan.
A defensora pública explica que a polícia e a Justiça nunca comprovaram a identidade do assaltante, que foi condenado e chegou a cumprir parte da pena. Na primeira oportunidade, o criminoso fugiu protegido pelo falso nome. A polícia então passou a procurar o foragido Julio Eglesias Soares, que acabou preso em 2007 em Lebon Régis, no interior de Santa Catarina, onde vivia com a família.
“O investigador me procurou e disse que tinha um mandado de prisão contra mim emitido por um juiz de Barra do Garças, em Mato Grosso. Eu questionei, porque não tinha passagem pela polícia, mas acabei sendo preso mesmo assim”, afirma Julio Eglesias.
Depois de preso, ele conseguiu entrar em contato com o irmão, que admitiu ter usado seu nome. “Meu irmão me ameaçou, disse que iria pedir para me matarem se eu não assumisse a culpa. Fiquei apavorado. Estava preso por um crime que eu não tinha cometido e não queria que meus filhos me vissem saindo da cadeia em um caixão, sem provar minha inocência”, diz.
Julio Eglesias conta que passou seis meses no presídio em Mafra e um ano em Cuiabá tentando informar a polícia e as autoridades sobre o erro que havia sido cometido, mas reclama que nunca foi ouvido. “Fui jogado no sistema carcerário. Ninguém parou para me ouvir. Nunca procuraram saber se eu era aquela pessoa que foi presa no dia do crime”, diz.
Digitais diferentes
A sorte de Julio Eglesias só mudou há três meses, quando ele consegui contar sua história à defensora pública Erinan Goulart Ferreira Prado. Ela conta que analisou uma cópia do processo e logo percebeu as falhas.
“No processo, tem fotos do homem que foi preso inicialmente e já pudemos perceber que é alguém com aparência física diferente de Julio. Nós requisitamos exame das impressões digitais e três peritos oficiais do Instituto Estadual de Identificação atestaram que as impressões do Julio Eglesias não são aquelas que constam do processo”, diz Erinan.
Solto do domingo, Julio Eglesias está na casa da família de um preso com quem fez amizade. Agora, ele pretende retornar para Santa Catarina, mas como não tem dinheiro para passagens aguarda ajuda da Secretaria de Estado de Trabalho, Emprego, Cidadania e Ação Social (Setecs) de Mato Grosso.
“Eu tive minha liberdade de volta e estou muito feliz. Quero ir para minha cidade, mostrar que sou inocente. Vou tentar reconquistar minha família, recuperar meu antigo emprego e voltar a estudar”, afirma Julio Eglesias.
Em relação ao irmão, ele garante que não guarda mágoas e diz confiar na Justiça divina. “Se eu pudesse falar com ele, diria: ‘Olha meu irmão te perdôo por tudo que você me fez’.”
Erros acontecem
A defensora pública afirma que erros como esse acontecem. Segundo Erinan, a lei determina que o preso deve apresentar um documento de identificação ou passar por um processo de identificação criminal, com a checagem das digitais, mas nem sempre o procedimento é cumprido.
Até o final da semana, a Defensoria Pública pretende entrar com uma ação de indenização por danos morais contra o estado de Mato Grosso. Ainda não há estimativa do valor que será pedido.
Fonte: G1/Globo.com
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