quinta-feira, 19 de junho de 2008

Pesquisa mostra que 6% dos paulistanos sofrem de estresse crônico causado por violência

Pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que 6% dos paulistanos sofrem de estresse pós-traumático após ter sofrido algum tipo de violência. Os pesquisadores ouviram 3 mil pessoas nos últimos seis meses. Segundo o professor Marcelo Feijó de Mello, coordenador da pesquisa, entre 10% e 15% das vítimas de violência desenvolvem este tipo de problema crônico, que necessita de tratamento médico para ser superado.

O sintoma mais comum é reviver constantemente as imagens do crime, seja em pensamento ou pesadelo. Sem conseguir se livrar da cena de violência, a vítima tende a se isolar e evitar sair de casa ou até mesmo o contato com outras pessoas. Além disso, a pessoa passa a viver sobressaltada, irritada e com insônia.

- Este tipo de estresse só é estudado em países que viveram situação de guerra. No Brasil, ele aparece associado à violência social - afirma Mello.

De acordo com o médico, a maioria das vítimas não se trata. Entre as 500 pessoas que recebem acompanhamento médico na Unifesp, 25% se aposentaram ou tiveram de tirar licença saúde para cuidar do problema, que se tornou crônico e difícil de ser superado. O tratamento inclui sessões de terapia em grupo e uso de medicamentos.

Normalmente, as pessoas evitam comentar o que sentem após serem vítimas de violência, com medo de se expor, e não procuram ajuda. Na maioria dos casos, o uso de medicamentos, sozinho, não resolve o problema

- A terapia em grupo é como um laboratório de readaptação social - diz Feijó.

O estresse pós-traumático, segundo ele, é mais grave do que a síndrome do pânico.

- A síndrome do pânico surge do nada e é mais facilmente superada justamente por não estar associada a um fato real - explica.

Normalmente, 85% a 90% das vítimas de violência conseguem se livrar dos sintomas num prazo de dois meses. A partir daí, as sensações regridem. Segundo a pesquisa, entre 60 mil e 90 mil paulistanos convivem com a forma crônica do estresse.

A maior parte dos pacientes atendidos na Unifesp foi vítima de assaltos e seqüestros-relâmpagos, em seguida aprecem casos de violência doméstica, agressão física e pessoas que perderam parentes por homicídio.

- As horas em que a vítima fica à mercê do bandido são um suplício - afirma o médico.

A percepção de violência em São Paulo também está ficando maior. Uma pesquisa feita pela consultoria Mercer mostrou São Paulo atrás do Rio de Janeiro num ranking de segurança feito com base na percepção de violência por parte de expatriados. No quesito segurança, São Paulo ficou em 180º lugar entre as capitais pesquisadas. O Rio, em 177º. De acordo com os pesquisadores, a maioria dos entrevistados acredita que a violência no Rio de Janeiro está mais exposta, mas em São Paulo é tão grande quanto e só não fica tão evidente porque a geografia da cidade dá menos visibilidade aos casos, que ocorrem de forma "espalhada".

Os dados completos da pesquisa serão apresentados no I Simpósio de Saúde e Violência Mental, que acontece nos dias 20, 21 e 22 de junho, na Unifesp.


O Globo.

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