terça-feira, 3 de junho de 2008

O planeta e os alimentos

Normalmente mais voltadas para a retórica do que para a prática, conferências de alto nível como a que a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) promove a partir de hoje em Roma exigem um compromisso mais firme da parte dos chefes de Estado, diante da aceleração dos preços dos alimentos em escala planetária. Por isso, ganha importância a manifestação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que promete cobrar com mais ênfase o fim dos subsídios dos países ricos e a compreensão de que, no caso brasileiro, os biocombustíveis não interferem nos preços dos alimentos, problema que se somou agora ao drama histórico da fome, que ainda atormenta milhões de pessoas em todo o mundo. A cúpula de Roma, que reúne representantes de praticamente todos os países que fazem parte da ONU, responde a uma crise global num dos item mais fundamentais para a sociedade humana: produção, distribuição e preço dos alimentos.

O Brasil, na condição de grande produtor de grãos e de carnes, é um dos poucos países diretamente favorecidos pela crise, embora aqui também a elevação dos preços acabe prejudicando as camadas mais pobres da população. O alerta para esta nova crise planetária partiu de organismos multilaterais, em especial os ligados às Nações Unidas. Nos meses recentes, por um mecanismo de oferta e demanda, a escassez de alimentos fez com que seus preços subissem de maneira rápida, inusitada e perigosa, levando centenas de milhões de pessoas à incapacidade de manter um consumo mínimo. As causas gerais são conhecidas: queda na produção de alimentos em alguns países, aumento da procura em outros (como China e Índia), parte da safra norte-americana de milho foi direcionada para a produção de etanol, sem falar na especulação no mercado das commodities e no aumento de alguns insumos fundamentais, a começar pelos combustíveis. Para o Brasil, entre essas causas não pode ser colocada a produção nacional de biocombustíveis (que é feita com cana-de-açúcar) e precisa, sim, ser colocada a política dos países ricos de manter um protecionismo que funciona como inibidor da produção mundial.

O acesso a alimentos suficientes e adequados faz parte de um dos direitos elementares da sociedade humana: o direito à vida e à sobrevivência. A crise dos preços dos alimentos, por seus reflexos trágicos, é a revelação de que esse direito está sendo dificultado e, em alguns casos, sonegado a milhões de seres humanos. A maioria dos organismos multilaterais e dos países, produtores e consumidores, não sabe o que fazer diante da gravidade desta crise. As instituições estão despreparadas para a urgência deste momento.

Nesse contexto, a reunião de Roma tem uma função de importância especial. O simples fato de ela ter sido organizada e reunida identifica a profunda consciência de que a crise não pode ser nem ignorada, nem desprezada. Na condição de um dos celeiros do mundo, ao Brasil cabe uma presença ativa na reunião de Roma e na necessidade de construir uma política mundial de alimentos.

Despreparo

A maioria dos organismos multilaterais e dos países, tanto os produtores quanto os consumidores, não sabe o que fazer para enfrentar a gravidade desta crise. As instituições estão despreparadas para a urgência deste momento.


Zero Hora.

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