segunda-feira, 2 de junho de 2008

"Não dei tiro para matar ninguém", diz rapaz preso após briga de trânsito

Depois de participar da reconstituição da briga de trânsito em que matou com um disparo o estudante Alexandre Andrade Reyes, 18, o comerciante Ismael Vieira da Silva, 23, afirmou que não atirou "para matar ninguém", mas sim para afastar o jovem e os amigos dele, que ameaçavam agredi-lo.

"Eu tentei, de várias formas, entrar no carro para fugir. Eles não deixavam, seguravam. O único alerta que eu tive foi pegar a arma e disparar", disse, em entrevista concedida na 2ª Delegacia Seccional Sul, onde está preso. Silva teve a prisão temporária decretada quinta (29), mas só se apresentou na manhã deste domingo, horas antes da reconstituição.

Os peritos e policiais reconstituíram o crime conforme a versão dos amigos de Reyes e conforme a versão do atirador. Os amigos de Reyes afirmam que discutiam com Silva no momento em que ele foi ao carro, pegou a arma e atirou em um deles, acertando Reyes. Silva, por sua vez, diz que Reyes e os amigos que o acompanhavam --seis, no total-- iam agredi-lo, se ele não atirasse em legítima defesa. "Se eu não tivesse uma arma, eu acho que estaria lá, estirado no chão."

Na delegacia, no final da tarde deste domingo, Silva afirmou que levava a arma escondida debaixo do banco do passageiro porque já foi assaltado, já foi baleado e já teve seu carro roubado. "Eu me arrependo [do crime]. Não imaginei que ia dar tanta repercussão." Silva ficará preso na carceragem do 77º DP (Santa Cecília), destinada a presos temporários que esperam vagas em CDPs (Centros de Detenção Provisória).

Como cursa o quarto ano de direito, ele não tem direito a prisão especial. O advogado dele, Décio Moya, 66, apresentou um pedido de habeas corpus na sexta-feira (30).

Conforme a Polícia Civil, quando a Polícia Técnico-Científica concluir os laudos a respeito da reconstituição, o inquérito será encerrado e encaminhado à Justiça.

Crime

Reyes foi morto quando voltava de uma festa num Corsa dirigido por outro rapaz. O Corsa era seguido por um outro carro e duas motos, também com colegas de Reyes. Na avenida Engenheiro Armando de Arruda Pereira, o Corsa teve que frear de repente porque a picape da frente, uma Montana, freou bruscamente em uma lombada.

Não houve choque, mas Silva, que dirigia a Montana, e o motorista do Corsa começaram a discutir. Em meio ao tumulto, Silva pegou a arma e atirou. Embora mirasse no motorista do Corsa, acertou Reyes. Enquanto o estudante era socorrido pelos outros amigos, Silva tentou fugir, perseguido pelo motorista do Corsa.

Na mesma avenida, o amigo de Reyes acabou perdendo controle da direção e batendo o Corsa em um poste. O rapaz foi socorrido e levado para o hospital com o nariz ferido.

Na terça-feira passada (27), Silva se apresentou à Polícia Civil e confessou o crime, dizendo ter agido em legítima defesa. Na ocasião, Silva foi liberado após prestar depoimento porque não houve flagrante. Em depoimento, ele disse ainda que jogou a arma usada pela janela do carro, logo após o crime. Silva só teve a prisão decretada pois, de acordo com a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo), faltou a procedimentos policiais aos quais havia se comprometido a comparecer.


Folha de São Paulo.

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