quarta-feira, 25 de junho de 2008

Estudante com paralisia cerebral tira 9,5 em monografia



Aluno de jornalismo apresentou o trabalho nesta terça-feira (24).
Com dificuldades para escrever, Eduardo Silva Purper optou pela gravação.

O jovem Eduardo Silva Purper, 22 anos, portador de paralisia cerebral, tirou 9,5 em sua monografia do curso de jornalismo. Sob o título de “Análise semiológica de narrações de futebol”, o trabalho foi completamente gravado, pois o estudante tem dificuldades para escrever e apenas 20% da visão.



A banca examinadora elogiou a pesquisa: “Fiquei bastante satisfeito com o trabalho”, afirmou um dos avaliadores, Ricardo Militão. "O estudo demonstrou a superação e o tamanho da capacidade intelectual do Dudu”, disse outro examinador, Paulo Finger.



Para a orientadora do trabalho Maricéia Benetti, a performance do estudante mostra que é possível fazer a inclusão de portadores de necessidades especiais no dia-a-dia. “Foi um prazer ter trabalhado com esta perspectiva diferente”, elogiou.

Quando terminar a faculdade, no ano que vem, ele será um dos primeiros jornalistas do Rio Grande do Sul com paralisia cerebral, segundo o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do estado.


Trabalho gravado

A gravação do trabalho, fez com que o estudante fosse independente em sua pesquisa.

“A idéia foi da minha professora -que depois se tornou minha orientadora-, pois eu não consigo ler. As coisas que eu faço são todas de memória para não precisar escrever também", conta Purper, que está no sexto semestre do curso do Centro Universitário Metodista do Instituto Porto Alegre (IPA).



A paixão pelo futebol é antiga. Aos 14 anos ele escreveu o livro “Purper é gol”, que está à disposição nas bibliotecas do IPA. "Na época eu tinha mais habilidade do que hoje para escrever porque eu treinava mais. Com a canetinha acabei escrevendo mais de cem páginas durante as sessões de terapia ocupacional, que foram reduzidas para 64 no livro", explica o jovem.

Ajuda da família e empenho

Purper conta com a família e a memória para acompanhar o curso. "Eu sento na frente e presto muita atenção no que os professores falam. Em casa, o meu pai lê os textos em voz alta e eu memorizo", diz ele que faz provas orais na faculdade.



O pai, o aposentado Ricardo Purper, leva o filho todo dia na faculdade e fica por perto durante o período de aula. "Sempre foi assim. Minha família sempre me ajudou e me incentivou a fazer o que eu podia apesar das minhas dificuldades. Faço fisioterapia desde os nove meses de idade e caminho com ajuda", diz o estudante que tem quatro irmãos.



Para fazer o trabalho da faculdade, o estudante desenvolveu um método. "Na monografia, em vez de pedir para o meu pai sublinhar nos livros o que eu achava importante, eu pedia para ele gravar. As gravações substituíram tudo", diz. O pai leu mais de cem livros para a execução do trabalho. "Eu também usei trilha sonora na introdução e entre os capítulos e nas citações, para diferenciar, é a voz do operador de áudio", explica.


Estágio e palestras

Enquanto não se forma, o jovem que quer trabalhar com jornalismo esportivo ou político faz estágio na rádio da universidade. "Eu brinco com os meus amigos que se só existisse rádio no curso, eu não me incomodaria. Sou um ouvinte muito assíduo e quero trabalhar com isso", conta.



Purper também participa de palestras de uma ONG sobre inclusão de deficientes em escolas e universidades.


G1.

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